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terça-feira, 1 de maio de 2012

Fonte dos Amores em Sintra - com contributos para Colares



© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Imagens: Arquivo d'O Caminheiro de Sintra


Fontaine des Amours, Fonte dos Amores em Sintra por Célestine Brélaz
em 1840 
    Quem nunca ouviu falar na Fonte dos Amores, em Sintra? Na Fonte dos Amores, no Caminho da Fonte dos Amores… Ou até talvez tenha ouvido na sua forma mais arcaica, Passeio dos Amôres... Celebrizada por Eça de Queirós numa enumerativa passagem das maravilhas de Sintra em Os Maias, ou da mesma obra numa carta de João da Ega, dizendo… e vêr o que estão fazendo os myosotis junto á meiga fonte dos Amores...

    Mas sem dúvida que a primeira, a enumerativa, é a mais usada. Dir-se-á antes: a mais gasta - no agastante ofuscar do turismo.

Cascata dos Pisões, muitas vezes confundida com
a Fonte dos Amores em Sintra
    Todavia, sendo tão mencionada no cansativo badalar da dita expressão, não se ouve, não se sabe quem diga onde a Fonte dos Amores fica. Contribui para isso o facto de essa ficar em propriedade privada, circunstância essa que quer em relação à Fonte dos Amores, quer em relação a qualquer outro item do património, deverá sempre ser respeitada, pela lei, e acima de tudo, pela liberdade individual de cada um, ou no conhecer dos limites dessa. Pergunta-se porque ainda o refiro? Porque infelizmente é prática comum ceder-se à vontade, ao invés de manter bem definida e bem visível, a fronteira do respeito.

    Outra das razões talvez seja também o facto de ser uma denominação comum em Portugal. Vem de imediato à memória, a Fonte dos Amores em Coimbra, palco de uma das mais belíssimas histórias de amor da nossa cultura. E é curioso que esse pequeno palco da história de Pedro e Inês - em consumação de eterno amor tumularmente voltados um para o outro - é situado na Quinta das Lágrimas, também conhecida como Quinta do Pombal. Engraçado porquê? Adiante o verá.



Rua dos Amores, por Isaías Newton em 1880
    Para além dessa em Coimbra, outra próxima poderá desviar as atenções da de Sintra: a Fonte dos Amores da Praia das Maçãs. E de Colares havia ainda e também, um Passeio dos Amores. E até - repare-se - uma Rua dos Amores, que hoje é denominada de Avenida dos Bombeiros Voluntários, rua - ou estrada - por onde passa quem por Colares passando segue para Norte (Praias Grande, Maçãs, etc.) ou quem segue para Oeste (Cabo da Roca ou para o Guincho) - mais simples será dizer que é a estrada da bomba de gasolina, dos bombeiros, do Exército de Salvação, ou da Junta de Freguesia de Colares.

    Não se julgue porém que destes outros lugares de igual nome que acabam por tornar discreta a Fonte dos Amores em Sintra no conhecimento das pessoas, pouca fama se lhes era atribuída. De Coimbra, nem valerá a pena exemplos dar, visto que tão extensa é a lista de belas referências a essa Fonte dos Amores. E para quem pense que a Fonte e Passeio dos Amores de Colares eram praticamente desconhecidos, existem referências com algum impacto.

    Em 1845, já Eduardo de Faria puxava para um contexto ficcional a denominação “Fonte dos Amores”: Era n'um destes dias bem bellos e bem ricos em dotes da natureza que, Nuno e Açucena se recolhiam a casa, na casa da estrada de Collares, depois de terem dado um passeio na quinta chamada: a Fonte dos Amores.

Fonte dos Amores na Praia das Maçãs, em fotografia
do blog Notícias de Colares
    C. e B., na imprensa da época em 1849, escreviam que Collares, o eden da Europa, nos está convidando com seus jardins tão viçosos, seus fructos de sabor especial, suas aguas tão puras, suas risonhas paizagens. Que deliciosa sombra se gosa no Passeio dos Amôres!

    Para além dessa menção, C. e B. nesse mesmo artigo acabavam também por num engano dissipar dúvidas que pudessem existir quanto à dúvida do Passeio dos Amores de Colares e de Sintra ser o mesmo: [o livro Cintra Pinturesca] Ha de lembrar-vos outro Passeio dos Amôres na quinta do marquez de Pombal; o campo de Setiaes... Este engano que acaba por ser proveitoso, é-o visto que Visconde de Juromenha, no seu livro Cintra Pinturesca, em momento algum escreve sobre o Passeio dos Amores, sobre algum Caminho da Fonte dos Amores, ou sequer cita a Fonte dos Amores. Pelo contrário, embora sendo um excelente guia, deixa passar em branco certos nomes atribuindo aos locais ou objectos apenas as suas características (e.g. Fonte d'El-Rei), para além de outros erros corrigidos depois na republicação de 1905, através das notas de António Cunha.
On the Collares Road, gravura do livro Fair Lusitania
de Lady Jackson, 1874
     Ainda do Passeio dos Amores de Colares, Frei Francisco dos Prazeres [nota CdS: Francisco Fernandes Pereira, falecido em 1852, usando por vezes o pseudónimo Um Flaviense], no seu Diccionario Geographico Abreviado de Portugal e Suas Possessões Ultramarinas, publicado no ano de seu falecimento, o refere, na secção dedicada a Collares: A Varzea é o mais encantador sitio de Collares, por ella corre o ameno rio das Maçãs. Tem tambem digno de se vêr a Mala; o Passeio dos Amores, a Quinta do Dias, o Fojo e a Pedra d'Alvidrar [nota CdS: trata-se "a Mala" de um erro, pois era "a Mata" que à altura existia, sendo um pequeno bosque junto à vila de Colares].

    Três anos mais tarde, em 1855 e com a Fonte dos Amores em Sintra e seu Passeio a serem um dos principais pontos de atracção da época como mais tarde veremos, é frisado de novo na obra impressa em Madrid e da autoria de Dom José de Aldama Ayala (Compendio Geographico-Estadístico de Portugal) o Passeio dos Amores em Colares: Uno de los sitios mas encantadores [de Colares] es el llamado Tanque de Varzea y son muy celebrados el Passeio dos Amores Y las playas y rio das Maçãs lugares todos de mucho recreo, sumamente animados en el verano por las continuas cabalgatas que los visitan. 
Caminho da Fonte dos Amores em Sintra,
pelos olhos do Caminheiro de Sintra em 2010


    Refere Dom José de Aldama Ayala os lugares de mucho recreo, enumerando-os. Pois em 1916 - ainda em papel, sendo erigida em 1920 - surgiria a Fonte dos Amores de Colares pela mente de Júlio da Fonseca, que quatro anos mais tarde, em 1920, conceberia a Fonte Mourisca como substituta do Chafariz da Câmara, na Vila de Sintra [nota CdS: tendo essa posteriormente em 1960 sido desmantelada, estando com suas pedras ao abandono num estaleiro ao longo de várias décadas do século XX, para ser reconstruída no actual sítio, em 1981] e que também tinha concebido a traça do Palácio da Peninha para Carvalho Monteiro, ou o Monteiro dos Milhões da Regaleira [nota CdS: o que se vê hoje em dia na Peninha não representa o traçado da ideia, do esquema original]. Embora só tenha sido erigida em 1920, a fonte - como fonte sendo - mais do que provavelmente já ali existiria antes ficando apenas a dúvida quanto à sua denominação.

    Como última referência a Colares, seu Passeio e sua Fonte, no ano de 1880, através do editor J.J. Bordalo com sua loja próxima à Praça das Flores em Lisboa e que durante décadas prosseguiria com a edição de guias, no Novo guia do viajante em Lisboa, Cintra, Collares, Mafra, Batalha, Setubal, Santarem, Coimbra e Bussaco, Júlio César Machado falando de Colares, menciona: ...e o Passeio dos Amores, onde póde encontrar-se logar mais digno de tal nome.

    Com esta última quase impetuosa referência, como que açambarcando a fama do melhor Passeio dos Amores para Colares, alguém poderá perguntar: “Então mas e a Fonte dos Amores de Sintra?”

Penedo da Saudade em Sintra, meados do século XX
    O actual Caminho da Fonte dos Amores, Passagem ou passeio que se desvirtua do Caminho dos Frades que com seu religioso peso desce abandonando a Quinta do Relógio e a Quinta da Regaleira, da antiga Estrada Velha que os de Sintra até Monserrate levava, escorrendo, esconde-se a meio de uma colina, em seu início longitudinalmente a percorrendo. Curioso é sem dúvida esse contraste, entre a serena religiosidade do Caminho dos Frades, e o trecho que o abandonando levava as passadas das pessoas a desse sair para se perderem no Caminho da Fonte dos Amores, nas subidas e descidas dos trilhos do coração. Se da razão de "Fonte dos Amores" mais à frente se perceberá seu porquê, quanto a "Caminho dos Frades" talvez possa sua razão estar relacionada com o facto de no passado as propriedades da Quinta da Boiça, Quinta de São Bento, Quinta de São Thiago, e Quinta do Pombal, terem estado sobre a alçada do Mosteiro da Pena, razão talvez também para antigamente existir à beira da Quinta da Regaleira - provavelmente próximas do início do referido caminho - duas cruzes.

    E nesse caminho, naquele caminho que religiosa via abandona, por baixo dos jardins de Seteais sem ser notado caminha, do miradouro junto, bem junto mas escondido como um intenso amante bem escondido arriscando um dia no Penedo da Saudade seus lamentos cantar, quantos masculinos rostos terão sido levemente tocados por femininas mãos em suave camurça envoltas? Quantos espartilhos terão contido ribombantes peitos com corações por Cupido feridos? E quantas conveniências, interesses e mentiras, por aquele caminho até àquela fonte, terão sido discretamente aplicadas?...
o Palácio da Vila com a cerca das aposentadorias, antes de sua demolição,
macisso e silencioso como em Os Maias
    E aqueles pares que sós se sentindo, não aguentavam opressão de espartilho ou rectidão do paletó, e se deixavam, escondidos, envolver em Humano amor e envolvente ardor, em quente toque de húmidos lábios, entre aromas de apaixonadas peles, entre aromas de amados cabelos? Guardará a Fonte dos Amores e seu caminho, tantos segredos como íntimos e não nossos sendo, aqueles que deles por respeito nem queremos saber?... Talvez apenas tal imaginar, sem nomes, sem imagens de rostos, no tempo que passando se vai, e que distante ficando, mais romântico fica…

a sentinela  do Palácio da Vila (antes da demolição)
que o Maestro Cruges temia que lhe lançasse alguma rude palavra
(gravura de Albrecht Haupt, 1904)
    E da coragem do amor, com lamentos e medos ficavam aqueles que como o Maestro Cruges em Os Maias, ouviam em basbaque as histórias de másculas conquistas no Penedo da Saudade em Seteais - atente-se à genialidade da ironia da imagem, da fraqueza dos homens em brados de suas conquistas... Acabavam esses por ser tão fracos e tolos, como o medo do Maestro Cruges face à sentinela da antiga entrada, da antiga cerca do Palácio da Vila, que à noite se escondia na guarita...

Fonte dos Amores em Sintra, ano de 1906
    ...este macisso e silencioso palacio, sem florões e sem torres, patriarchalmente assentado entre o casario da villa, com as suas bellas janellas manuelinas que lhe fazem um nobre semblante real, o valle aos pés, frondoso e fresco, e no alto as duas chaminés collossaes, disformes, resumindo tudo, como se essa residencia fosse toda ella uma cosinha talhada ás proporções de uma gula de Rei que cada dia come todo um Reino... E apenas o break parou á porta do Nunes, foi-lhe ainda dar um olhar, timido e de longe - receiando alguma palavra rude da sentinella.

    E de recordações da realidade, opostas às fantasiadas pela mente de quem naquela época se embrenhe e de subtis detalhes se circunde, ficam as referências textuais, como que numa atitude de rebelião da própria Fonte dos Amores contra o desgaste de uma só citação, mancamente utilizada pelo dinheiro que embora sendo necessário e se movendo, pretendendo a elevar, ofusca a cultura sintrense. E tão citada essa de Eça sendo, tão falada, tão “subir à Pena, ir beber água à Fonte dos Amores”, quem a cantando terá afinal a certeza de onde se situa ela?

duas águias avistadas do Caminho da Fonte dos Amores,
pelos olhos do Caminheiro de Sintra em 2010
    Existe até quem a projecte no meio da Serra, ou na Cascata dos Pisões, ou em múltiplos sítios outros. Existe também quem a invoque em intenso romantismo, sem sonhar no entanto saber onde ela fica... - o que acaba por ser tão natural como qualquer apego religioso pelo céu... Mas deambule-se então por suas referências.

    Em 1851, Metello (pseudónimo), descrevia com imprecisão no Jardim Litterario, a localização da dita: Horas no pinhal anão, no alto da quinta do marquez de Pombal; horas na fonte dos amores; tempo gasto em passar pelo bosque de Diana (momentos); os espaço que gozei na quinta do Valle dos Anjos; tardes nas quintas da Regaleira [nota CdS: à altura, a Regaleira de Cima e a Regaleira de Baixo]; e as que solitario tive nas ruinas de Monserrate [nota CdS: pelo ano, provavelmente a expressão "ruína" é aplicável ao Palácio de Monserrate e não apenas às ruínas românticas de sua capela] Assim se ficava com a noção da zona onde a dita seria.

Caminho da Fonte dos Amores em Sintra,
pelos olhos do Caminheiro de Sintra em 2010

    Depois de Eça, talvez o mais sonante nome tenha sido o de Lady Jackson (Lady Catherine Hannah Charlotte Elliott Jackson), no seu Fair Lusitania (Formosa Lusitânia) de 1874. Começa o excerto com sublime delicadeza, e com ela continua retratando com uma fantasia leve, levezinha, lindos detalhes do ameno de Sintra, iniciando com uma comparação de como os tempos de William Beckford supostamente seriam: There were neither races nor bullfights, but probably there were fairies and woodnymphs, or you might fancy so; for it is just that sort of enchanted and enchanting region where, if anywhere, the existence of such beings may be believed in. The glowworms and fireflies that perhaps lighted the fairy revels still linger here. You may see them in the summer evenings, and as you saunter along the "Passeio dos Amores" - the Lovers' Walk - or other shady grove. E como o sítio em belíssimo recanto neste planeta sito o requeria, logo de seguida acrescentou: But not sauntering alone; for the beauties of nature seem more beautiful still when a companion of sympathetic tastes shares with you in your delight in and admiration of them. Resta acrescentar que demais descrições são belíssimas, para além dos deliciosos contornos.

    Em relação a Lady Jackon e sua alusão ao Passeio dos Amores, é irresistível colocar aqui a deliciosa tradução de 1877 de Camilo Castelo Branco de tal excerto: Dir-se-hia que os pyrilampos e as moscas phosphoricas ainda relampejam nas orgias das bruxas que por alli se vão mirrando. Em noites estivas, podeis vel-as no Passeio dos Amores ou em qualquer bosque fechado.
Castello dos Mouros em Fair Lusitania,
de Lady Jackson, 1874

    Cinco anos depois da publicação de Lady Jackson, Alfonso Roswag no seu Nouveau Guide du Touriste en Espagne et en Portugal, Itinéraire Artistique, do ano de 1879, depois de falar de D. João de Castro e sua querida Penha Verde diz na clara identificação do caminho que aqui se circunda: Puis viennent encore, d'autres chàteaux comme celui de Pombal, avec sa belle allée d'arbres nomée Passeio dos Amores...

    No ano seguinte, e de novo no Novo guia do viajante em Lisboa, Cintra, Collares, Mafra, Batalha, Setubal, Santarem, Coimbra e Bussaco, de 1880, por Júlio Cesar Machado (não esquecendo a importância do editor deste pequeno guia, anteriormente falada), escrevendo de forma sumária sobre a Quinta do marquez de Pombal, diz: É notavel entre todas as ruas de arvoredo que aformoseiam este logar, uma a que chamam o Passeio dos Amores, porque é de tal forma coberta pelas ramos e folhas das arvores, que nem ao meio dia penetra ali o sol. Descrição esta é tão intensa, como intenso é o apaixonado amor cercado pelas paredes da intimidade entre dois seres.

    Voltando anos atrás nas referências, até 1843, ano da publicação de Cartas Escriptas da India e da China nos Annos de 1815 a 1835 à sua esposa, tendo na edição seguinte o autor pedido ao Cardeal Patriarca de Lisboa para passar por sua censura, tem no excerto que abaixo é apresentado, e na parte "fonte dos amores", a sua primeira nota do livro, clara, transparente, para elucidação quanto à localização: 1 Fonte singular pela solidão, e frescura de seus contornos; corre na quinta do Marquez de Pombal.

José Inácio de Andrade em 1815,
antes da sua sentida partida para a Índia
    No entanto, como se pôde observar, a nota até neste artigo aparece antes do excerto. O porquê prende-se com o sublime do contexto destas cartas, e com o peso, o imenso emocional peso da primeira, mais especificamente nas palavras e emoções que envolvem o uso da denominação “Fonte dos Amores”: Sendo a publicação destas cartas uma importante peça histórica para o conhecimento de como os portugueses viam a Ásia no século XIX, logo na primeira carta, no abandonar da Pátria, na imensa saudade que a partida parte frágil coração, Inácio de Andrade diz à sua esposa em 1815: Assomava ao longe a escarpada serra de Cintra, cantada pelo insigne Camões, onde se acham variados primores da natureza enriquecida pela arte. Valles cultivados, e cortados de regatos, fontes, cascatas, e palacios magnificos. Imagina a sensação dolorosa, que soffri com a triste lembrança do mar dilatado, que tenho de sulcar, antes de tornar a beber comtigo a purissima agua da fonte dos amores. É de facto, uma partida que frágil coração parte, e que horizonte do tempo dor agudiza. Uma parte disso ainda que ínfima, sente quem o lê. Ou pelo menos, quem estas palavras escreve.

fungo Lepiota na Fonte dos Amores
em Sintra, em 1937
    Passando para o século XX - naquilo que nesta extensa pesquisa me foi possível encontrar -, em 1937 deparamo-nos na Naturalia, revista trimestral de divulgação publicada pela Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais com um fungo, um cogumelo, encontrado na Fonte dos Amores, aqui em fotografia da referida edição apresentado, bem como uma engraçada parte do pequeno texto que lhe corresponde: Este lindíssimo Fungo, outro Lepiota, é também de Sintra, mas da Fonte dos Amores, Monserrate. Podia mesmo chamar-se-lhe um amor de Fungo.

   E já em 1989, num importante documento que muitos conhecerão, publicado na Portugaliae Acta Biologica, denominado A Flora da Serra de Sintra, A.R. Pinto da Silva, o seu autor, refere quanto à espécie Ranunculus Ficaria L. (sem designação popular em português): Citado apenas «in humidis pr. Cintra» (Welw., Apr. 1847: LISU P 14 361) e visto no caminho para a Fonte dos Amores.

    Por último, e como não podia deixar de ser... Eça de Queirós. A tão gasta citação de Os Maias loucamente utilizada no desespero de chamar para si os cifrões das cabeças dos turistas (como…), ignorando a verdadeira beleza de Sintra em sua calma, serena, e desapegada essência encontrável, e talvez pior do que isso, cansando a imagem de um grande português, passando-a como apenas “grande português”, e esquecendo o ser Humano que tão belo era, e tanto tem para descobrir a quem por ele se interesse.

   O que! o maestro não conhecia Cintra?... Então era necessario ficarem lá, fazer as peregrinações classicas, subir á Pena, ir beber agua á Fonte dos Amores, barquejar na varzea... [nota CdS: de acordo com a ortografia da 1ª edição, de 1888]

Caminho dos Amores em Sintra,
por Isaías Newton, 1877
    Parece até, que cada cabeça a quem a citação é “enviada”, é como aquela a que a própria citação refere, já neste artigo referida nas palavras sobre o Maestro Cruges…

   Concluindo este artigo, em últimas importantes palavras: o relembrar do que aqui foi mencionado, relativamente à propriedade privada. Com respeito muito mais se consegue do que o que pensamos ser uma limitação. É antes a fronteira necessária entre as nossas vontades e o Mundo, e um imenso poder para a recriação da mente, momento a momento. Só com esse respeito se consegue caminhando pela Rua Barbosa du Bocage, pelo Caminho dos Frades, pelo Caminho da Fonte dos Amores, sentir em seu fim sem saída, em quintas que o rodeiam, aquilo que aproximado seja do sereno que romanticamente se vivia e se sentia em outros tempos. Isaías Newton decerto assim o sentia, e assim o sentindo expressou em matéria, a imagem do Caminho da Fonte dos Amores, o caminho que descendo da Quinta da Regaleira sai da "via sacra" do Caminho dos Frades, para por entre a romântica vegetação que tantos amores acolheu, ir terminar na Fonte dos Amores, em propriedade privada - antigamente ao público aberta, hoje por decisão que merece ser respeitada, fechada - na Quinta do Pombal.



© O Caminheiro de Sintra


APÊNDICE ::: Há cerca de vinte anos que se pode encontrar na Biblioteca Municipal de Sintra, um trabalho universitário dactilografado, intitulado Fontes e Chafarizes da Vila de Sintra, da autoria de Graça Nunes, Helena Trigueiros, e Sónia Gomes. Neste se encontram algumas referências à Fonte dos Amores. O problema que se coloca e que faz com que esta referência seja colocada em apêndice, tem que ver com a quantidade de informações erradas do dito trabalho em relação aos itens nesse enumerados e descritos. Apesar disso não deixa de ser um excelente guia orientador. Assim mesmo optei por citar o que lá vem no item da Fonte dos Amores, com exacta ortografia:


Na estrada Nova da Rainha depois de passar a Quinta da Regaleira, virando à esquerda, entramos no largo da Quinta do Relógio. Descendo em direcção ao caminho dos Castanhais pela rua Trindade Coelho virando de novo ao lado esquerdo entramos no Caminho dos Frades que dá acesso à Quinta do Pombal, que outrora foi pertença de Frades, do Marquês de Pombal e do Visconde de Monserrate, tendo posteriormente sido comprada, por volta de 1904, pelo senhor Mário de Sousa, bisavô do actual proprietário, senhor Pedro Iglésias de Oliveira.
Passando o portão da quinta, sempre aberto e andados uns largos metros num percurso pautado por vegetação luxuriante, surge-nos num romântico recanto, ao cimo de uma escadaria empredrada, a famosa Fonte dos Amores.
Esta, apesar de se encontrar dentro duma propriedade particular é considerada pública.
A Fonte dos Amores é sem dúvida aquela em que, a acção do homem menos se faz sentir e que muito teria para contar se nos fosse possível dar-lhe voz.
Conta-se que a Rainha D. Amélia, para ali ia fazer piqueniques, nos abrasadores dias de Verão.
Eça de Queirós, em "Os Maias", faz alusão à Fonte dos Amores, que não corresponde a esta que por nós é descrita, mas sim a uma outra com o mesmo nome existente na serra.
Fonte dos Amores, imagem do trabalho
Fontes e Chafarizes da Vila de Sintra,
de 1993
A Fonte dos Amores, dedica Carlos Monteiro Rebello da Silva, o seguinte soneto:


A fonte dos oráculos fechou...
Sêde que dentro nossos peitos cura
A não dêsse destino é que nos leva
Foi quem neste caminho nos levou...


O Paraíso que Deus para nós sonhou...
Lá, vi o sol romper por entre a treva
As folhas que foram o traje de Eva,
Lá, vimos a serpente que atentou...


Fonte que faz muita cabeça tonta
O delírio no cálix duma flor
É tarde...no céu Vénus já desperta...


Vivo de luz, tu vives a dormir?
Partimos...já são horas meu amor
O amor é Primavera...a florir...


Na parte da documentação adstrita ao trabalho, vêm mencionados seis documentos relacionados com o item Fonte dos Amores, tendo sido os mesmos impossíveis de localizar, mesmo somente através da existência dos mesmos pelo seu título:


Fonte dos Amores
Documento 3
"Jornal da Sociedade de Juventude", nº4, sábado, 25 de Outubro de 1845
Documento 4
"Jornal da Sociedade de Juventude", nº13, sábado, 27 de Dezembro de 1845
Documento 5
"Sintra Regional" (C.G. Reswel), pag. 7, Sintra, 13 de Novembro de 1926
Documento 6
"Sintra Regional" (Helena Maria de Jesus), pag. 4, Sintra, 20 de Novembro de 1926
Documento 7
"Sintra Regional", pag. 2, Sintra, 7 de Maio de 1927
Documento 8
"Sintra Regional", pag. 3, Sintra, 23 de Julho de 1927


Fica assim este apêndice concluído, com mais esta referência há quase vinte anos guardada na Biblioteca Municipal de Sintra, que embora incerto por suas informações erradas, poderá dar pistas para mais se saber sobre a Fonte dos Amores em Sintra.


Fim de Apêndice © O Caminheiro de Sintra