colecções disponíveis:
1. Lendas de Sintra 2. Sintra Magia e Misticismo 3. História de Sintra 4. O Mistério da Boca do Inferno 5. Escritores e Sintra
6. Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, Séc. XVIII 7. Contos de Sintra 8. Maçonaria em Sintra 9. Palácio da Pena 10. Subterrâneos de Sintra 11. Sintra, Imagem em Movimento


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Magnetismo de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte IV



© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Imagem: autor Flickr Nimages DR


"Para voltar à mina de íman, direi que depois de haverem cavado
cerca de seis pés conseguiram encontrar o filão."
"Havia nessa montanha uma mina de íman e dela existia alguma notícia. Sabiam que fora vedada em tempos do rei D. Pedro, mas não tinham ideia do sítio onde estava. O estrangeiro recebeu ordem de procurar essa mina e teve a sorte de a descobrir por ter notado que as ervas cresciam em determinado sítio eram de cor pálida e diferentes das que se viam nos arredores. Os habitantes tinham conhecimento de algumas pedras partidas ou de simples lascas que se encontravam dispersas, mas nunca ninguém atinara com a matriz. Foi para que o estrangeiro falhasse que o marquês de Abrantes o fez incumbir de tal missão, porque via com desagrado a protecção que lhe dispensava o secretário de Estado e a amizade que lhe tinha o conde de Assumar, homem sabedor e com curiosidades, a quem ele invejava o génio e a habilidade.


O marquês conseguira que esse senhor fosse afastado da corte e sem autorização para se apresentar a beijar a mão ao rei desde o seu regresso das minas. O favorito temia-se dos méritos do conde de Assumar por serem superiores aos de qualquer dos da sua camarilha e receava que o rei, sagaz como é, se apercebesse de tal diferença. E assim o marquês ia adiando a inquisição ao governo do conde a fim de evitar que ele se aproximasse da real pessoa. Porque é costume em Portugal que quem regresse a Portugal depois do exercício de um vice-reinado não apareça na corte enquanto não sejam julgados os actos do seu governo em paragens remotas. Se acontece que um governador chamado ao reino venha encontrar inimigos seus no ministério, fica em risco de esperar por dilatado tempo a aprovação da sua conduta.

Para voltar à mina de íman, direi que depois de haverem cavado cerca de seis pés conseguiram encontrar o filão. Mas, como já disse anteriormente, não sendo estas montanhas mais que um amontoado de pedras sobrepostas, sem qualquer ligamento sólido, não podiam avançar sem especar as aberturas que iam fazendo. Depois da informação do meirinho-mor ao secretário de Estado, foi ordenado que a mina continuasse encerrada com receio de desperdício. As pedras se extraíram, não estando devidamente preparadas, não levantavam mais do que uma polegada de ferro.

A serra de Sintra é muito rica em minério e produz grande variedade de plantas curiosas e raras de que os portugueses não fazem caso por não serem capazes de as apreciar.

Os estrangeiros que queiram dedicar-se à descoberta dos recursos desconhecidos deste reino não conseguirão mais que um acervo de contrariedades, suficiente para os desgostar de semelhante ocupação. Aquele de quem tenho vindo a falar viu-se obrigado a submeter os seus trabalhos à apreciação do boticário do rei, único personagem à altura de distinguir a couve da alface, se exceptuarmos, bem entendido, os quatro esclarecidos fidalgos que citei, aos quais cumpre distinguir do resto dos portugueses.

O secretário de Estado não susteve o riso quando lhe disseram que as investigações do seu amigo, cuja capacidade conhecia muito bem, iam ser submetidas ao juízo do boticário ignorante. Para revelar a grande ignorância dos portugueses bastará dizer que importam da Holanda o zimbro de que estão cheias as suas serras, especialmente a famosa serra da Estrela, cuja descrição hei-de fazer.
"


© O Caminheiro de Sintra


As outras partes de Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, relato do século XVIII:

I. Castelo de Sintra, Subterrâneos de Sintra, Descrição Física, e a Chegada - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte I
II. Subterrâneos de Sintra e os Seus Tesouros - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte II
III. Cisterna do Castelo dos Mouros e Sua Descoberta, ou a Segunda Parte dos Tesouros de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte III
V. As Visões de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte V
VI. A Senhora Pedagache - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VI
VII. O Curandeiro de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VII
VIII. O Convento dos Capuchos, e os seus Capuchinhos - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VIII


Créditos da Fotografia: Autor Flickr Nimages DR