colecções disponíveis:
1. Lendas de Sintra 2. Sintra Magia e Misticismo 3. História de Sintra 4. O Mistério da Boca do Inferno 5. Escritores e Sintra
6. Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, Séc. XVIII 7. Contos de Sintra 8. Maçonaria em Sintra 9. Palácio da Pena 10. Subterrâneos de Sintra 11. Sintra, Imagem em Movimento


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Lenda do Túmulo dos Dois Irmãos, Versão "Sintra do Pretérito", de 1957



© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Imagem: Carlos Pinheiro


O Túmulo dos Dois Irmãos
  Talvez seja esta a versão que quem procura informações sobre o Túmulo dos Dois Irmãos em Sintra deva ler, devido à análise dos factos levada a cabo por Félix Alves Pereira, e às suas conclusões.

  De referir também um facto curioso, que é a utilização de medidas e coordenadas para análise, coisa que - falando o escriba por experiência própria - nos pode levar a vários locais da Serra de Sintra, ou subtilmente realizar as ligações entre locais, qual caminho inexistente aos olhos que tudo tentam observar.

Versão de Félix Alves Pereira; "Sintra do Pretérito" - 1957

"A 22 de Abril de 1933, fui examinar este documento pela Segunda ou terceira vez; creio, porém, que a primeira depois que ele foi desviado da sua antiga situação. Actualmente está à margem da estrada e à esquerda de quem se dirigir a S. Pedro. Tem duas cabeceiras nas extremidades, ambas com o emblema da cruz voltado para os lados opostos; as cruzes são iguais e reproduzem o tipo românico das cruzes de sagração das igrejas românicas; na extremidade do monumento, do lado NNO (285º), existe ainda, sobre a campa, um pequeno pedestal circular com um ou dois degraus e a mecha central; o cruzeiro desapareceu. A tampa tem três faces e é sensivelmente rectangular; a face plana, que é a central, tem um relevo, ao longo, uma cruz esculpida com base e o emblema. O cruzeiro ficava do lado do NOO. De cabeceira a cabeceira mede por dentro, 1,70m: a cruz esculpida, com a sua base, 1,60m. As suas cabeceiras, pela face interna, são lisas, na externa está esculpida uma cruz em relevo: o seu diâmetro é 0,35 e espessura 0,20m. O pedestal do cruzeiro tem 0,40m e ficava do lado setentrional, portanto, do lado oposto à cruz esculpida na campa. É evidente que a forma da cruz esculpida é românica. Em 1930, foi aberto e reconstruído ao lado da estrada. Eu tinha-o visitado em 1927, creio eu, e fotografado. A campa era trifacetada e rectangular, com uma cruz gravada em relevo, semelhante às que ainda se vêem em degraus e noutros pontos na Igreja de Santa Maria. […].

A rótula, como as duas antecedentes, foi encontrada também no arquivo do Instituto de Sintra.
A denominação Túmulo dos Dois Irmãos tem origem na lenda seguinte:
Dois irmãos enamoraram-se, sem o saberem, da mesma mulher. Uma noite um deles encontra o rival debaixo do balcão da que supunha fiel ao amor jurado e matou-o. No dia seguinte verificou que o assassinado era o seu irmão querido. Com o mesmo ferro homicida acabou com a vida, sobre o cadáver daquele que tanto estimava.

A história é romanesca e repete-se noutros locais. Depois a abertura do túmulo, feita em 7 de Abril de 1830 por ordem de D. Miguel que quis assistir ao acto, mostrou existir ali um único esqueleto.

“O Moymêto e Cruz” respectiva do Ramalhão, - (Antigualha das Cercanias de Sintra - Panorama, v. 6, p. 359, Lisboa, 1842) - como se vê numa antiga litografia existente no incipiente Museu de Sintra, foram construídas no Cemitério dos Lázaros desta localidade, conforme garante documento existente nos acordos da Misericórdia de Sintra (livro 7, 11.96), estudados por Braamcamp Freire.

Porque D. Luís Coutinho sofreu de lepra e se tratou nos banhos de Santa Eufémia da Serra, supôs-se já que o túmulo lhe pertencia. Braamcamp Freire aduz, no entanto, razões que levam a não aceitar a hipótese sem reservas. Este investigador encontrou documento referente ao túmulo em questão mas que data mais de 30 anos depois da morte de D. Luís Coutinho. O facto não invalida em absoluto a hipótese mas mister se torna encontrar prova decisiva. D. Luís Coutinho foi Bispo de Viseu em 1438 e transferido para Coimbra em 1444. Esteve em Roma em 1451 a acompanhar a Infanta D. Leonor, que então se casava com o Imperador Francisco III
(nota correctiva: leia-se "Frederico III" e não "Francisco III").

 O Abade de Castro diz que ele foi Arcebispo de Lisboa, em 1452. Braamcamp Freire informa não ter encontrado documento algum a garantir a afirmação e lastima que o Abade de Castro não haja mencionado o que lhe serviu para a afirmativa.

Tudo é mistério no Túmulo dos Dois Irmãos.

Do manuscrito citado por Braamcamp Freire parece depreender-se que a cruz alçada sobre o monumento em questão não deve ser da primitiva, mas acrescenta que a piedade a impusera. Nele se diz que, em 1 de Julho de 1673, a Misericórdia de Sintra mandou “pôr uña cruz de pedra na sepultura dos Lázaros e já esta Santa Casa a tinha mandado pôr a que furtarão e se pôs no ano de 1598 - mil quinhentos e noventa e oito - Anos” e despendeu nela “mil e quinhentos reis”.
"


© O Caminheiro de Sintra


P.S.: Quanto à localização dos sítios mencionados neste blog, tive durante muito tempo a dúvida se a mesma haveria de ser aqui disposta ou não. Pela resolução positiva, peço que faça o melhor uso possível desta informação, o qual principalmente tem a ver com a preservação do património e a não poluição dos locais sob que forma for. Tendo boa fé em si, deixo-lhe aqui no mapa (seta verde - poderá ampliar o mapa para ver melhor), o Túmulo dos Dois Irmãos, em São Pedro de Sintra, Portugal:


Ver mapa maior