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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Lenda de Seteais ou Palácio de Seteais V - Versão de João Diogo Correia (1958)


© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Fonte: Revista Portugal, v.23, 1958
Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra


O Campo e o Arco de Seteais
com o Palácio da Pena
na distância
  Após as várias versões da Lenda de Seteais publicadas n'O Secreto Palácio de Sintra, bem como a história de Seteais e de seu palácio, eis aqui um artigo de João Diogo Correira, saído na "Revista Portugal" de 1958, volume 23, na secção "Notas Toponímicas", em que o autor questiona a etimologia de "Seteais", abordando notas históricas do Município de Sintra, onde se incluí a Lenda de Seteais.

"Seteais

Sítio da Freguesia de S. Martinho. Tem um palácio mandado construir nos fins do século XVIII pelo negociante holandês Gildmaester e depois vendido ao Marquês de Marialva, que o restaurou.


Conta a lenda que, na conhecida Quinta dos Seteais, em Sintra, esteve cativa e lá morreu, depois de muito penar, uma formosa princesa moura que, pouco antes de expirar, deu nada menos que sete ais muito sentidos e profundos. Da junção daquelas duas palavras - sete ais - nasceu, diz o povo da região, o nome do sítio - Seteais.

Por seu turno, a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira informa o seguinte:
“Da entrada, voltando-se o visitante para o palácio e vozeando alto, obtém um eco perfeito e curioso (a este eco se atribui o nome do sítio).

Seteais, com E depois do T, escreveu também Sousa Viterbo num artigo inserto na página 64 do volume 6º do Arquivo Histórico de Portugal, no qual chama ao local Quinta do Campo de Seteais.

O abade de Miragaia (Tentativa Etimológico-Toponímica, v. 2, p. 247) opina que Seteais é mera corrupção de CENTEAIS, etimologia que não me parece digna de aceitação.

No 2º volume Dos Problemas da Linguagem também o saudoso filósofo Cândido de Figueiredo se ocupou do caso, nos termos seguintes:
“Setial, provavelmente alteração de sedial, (de sede assento) significou dantes um banco de assento ornamentado, nas igrejas, era também o mesmo escabolo, e passou a designar qualquer pequena elevação de terreno, em que alguém se pode sentar como um banco.
Consequentemente, elevações de terreno, mais ou menos revestidas de verdura, eram setiais, nome comum próprio para designar um sítio nas cercarias de Sintra.”.

Temos, pois:
1º. - A lenda, que, por o ser, não pode influir no descobrimento da verdade;
2º. - O parecer do abade de Miragaia, que nos oferece para o étimo o centeio;
3º. - A hipótese de Cândido de Figueiredo, segundo a qual setial equivale a sedial, de sede, assento;
4º. - A opinião de Armando Cortesão, que filia a origem etimológica do vocábulo no espanhol sitial, de sítio.

Tenho para mim que se encontra num dos dois últimos números a verdade que se procura; eu, porém, hesito em me pronunciar por qualquer das propostas nelas contidas, ambas provindas de etimólogos honestos e competentes."




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