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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Solução d'"O Mistério da Boca do Inferno" - Parte I



© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra




Tem a certeza que deseja ler a solução deste mistério? De certeza?

Pergunto isso pois o português tem a capacidade inata para preferir o fantasioso desconhecido ao cru cerne da verdade, sempre optando antes por se deixar cair em divagações acerca da vida, do que pensamentos concretos acerca da história. Bom, e não é isso o que verdadeiramente nos maravilha? O desconhecido, os “ses”, as infindáveis possibilidades, a incógnita, o enigmático, o espiritual…tudo isso gera em nós um desejo de nos recriarmos com as grandes criações do Universo, e de nos maravilhar-mos com os estranhos acontecimentos que na vida de cada um de nós sucede, raramente, frequentemente, ou em algum importante momento das nossas vidas.


Ainda assim, na suposta solução deste mistério, ficarão algumas razões intrínsecas das individualidades que esta verídica história constituem, por descortinar…provavelmente, para todo o sempre.

Mas…adiante, adiante! Se tem mesmo a certeza de que quer saber a solução d’O Mistério da Boca do Inferno, siga as minhas linhas!

De forma crua e seca, apresento de imediato e perante si, um excerto de uma carta de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões:

"O Crowley, que, depois de se suicidar, passou a residir na Alemanha, escreveu-me há dias e perguntou-me pela publicação da tradução. Tinha-lhe eu escrito, aqui há meses, que ela viria publicada na Presença em breve. V. é que me fez entalar-me com essa declaração. Veja lá, agora: não me deixe mal com o Mago! Mas, a sério, se há qualquer razão para aquilo não ser publicado, V. diga francamente". (nota: o poema Hymn to Pan / Hino a Pã, foi publicado na Revista Presença número 33, Julho/Outubro de 1933)

Ora após isto ler, qualquer pessoa ficará com a sensação de que se tratou apenas de uma espécie de golpe publicitário urdido entre o jornalismo de Augusto Ferreira Gomes e o magismo de Aleister Crowley.

Porém, nenhum facto concreto existe para de forma indubitável apoiar essa crença, à excepção da indubitável forma com que desconfiamos dos nossos semelhantes. E certo é também, que na década de trinta do século passado, “golpes publicitários” eram coisas que ainda percorriam rústicos caminhos. E, que necessidade teria o mago, o afamado e infame pela sua negra fama, de dar um “golpe publicitário”, ainda para mais um em que simulava a sua morte, sem sequer ter uma miraculosa segunda parte, onde deveria estar focado a sua – suposta – ressuscitação?

Daí podemos depreender, que caso “golpe publicitário” fosse, teria sido urdido com contornos muito mais definidos e acutilantes para a percepção de quem dele fosse “vítima” – ou seja, o público em geral.

Mas não foi isso que se passou. Afinal de contas, nenhum enfâse foi dado ao suposto reaparecimento de Aleister Crowley, residindo na Alemanha.

Contudo, para além da desconfiança inerente a cada um de nós, acerca do seu semelhante – ainda para mais quando a magia se torna em propositada acção de interesse – qualquer pessoa nota um tom de ironia nas palavras que Fernando Pessoa dirige a João Gaspar Simões acerca de Aleister Crowley, o que é todavia estranho, ainda para mais se atentarmos ao tipo de escrita presente na maior parte da correspondência que Fernando Pessoa mantinha com seus amigos e conhecidos.

Que seria então? Um “golpe publicitário”? Um “golpe publicitário” falhado por qualquer razão? Ou teria sido Augusto Ferreira Gomes não o comparsa de Aleister Crowley num esquema de alarido público, mas alguém que terá ajudado Aleister Crowley a realizar alguma desconhecida acção? Terão alguns autores razão, quando falam da possível ida de Aleister Crowley da entrada de um gruta na Boca do Inferno, até ao cerne da Serra de Sintra?

Não nos esqueçamos de outra coisa: a estranha foto de Aleister Crowley e Fernando Pessoa a jogarem xadrez em Sintra, quando afinal os dois nunca lá estiveram em simultâneo.

Continuará no próximo papel...


© O Caminheiro de Sintra


As outras partes d'O Mistério da Boca do Inferno:

I. Aleister Crowley e Fernando Pessoa ou "O Mistério da Boca do Inferno" - Parte I
II. "O Mistério da Boca do Inferno" ou Fernando Pessoa e Aleister Crowley - Parte II
III. Fernando Pessoa e Aleister Crowley ou "O Mistério da Boca do Inferno" - Parte III
II.II. "O Mistério da Boca do Inferno" ou Fernando Pessoa e Aleister Crowley - Parte II da Conclusão