© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Imagens: Lisbon Tours (1ª); Arquivo do Caminheiro de Sintra (restantes)
Não nos esqueçamos de outra coisa: a estranha foto de Aleister Crowley e Fernando Pessoa a jogarem xadrez em Sintra, quando afinal os dois nunca lá estiveram em simultâneo.
Uma explicação simples, antecede outra de igual complexidade: Sintra, o facto de ser em Sintra, foi pura especulação, ou ajuda na criação de um mito ainda maior.
Ora em Portugal, na década de trinta, e segundo relatos colhidos por Marco Pasi, não existiam mulheres a servir às mesas em cafés ou clubes, e como se pode ver na foto, existe uma senhora que aparenta estar a prestar esse serviço. Para além de que…não existia nenhum registo, de que fotografia de Pessoa e Crowley juntos, houvesse sido tirada.
Nesse caso, só poderia ter sido em Inglaterra.
Até mesmo Paul Newman, no seu livro “Aleister Crowley and the Cult of Pan”, faz referência a essa foto, dizendo que a mesma tinha sido tirada quando Fernando Pessoa certa vez fora a Londres, e ajudara Aleister Crowley em algumas sessões de magia.
Porém…desde que Fernando Pessoa regressou com sua mãe de África do Sul (mais exactamente de Durban), não mais voltou a sair de Portugal.
Como é então possível, que a foto esteja repleta de improbabilidades de existência em seus factos?
Marco Pasi acabou por conseguir tornar a improbabilidade da existência da foto, em afinal algo bem simples e real. Segundo relatos que recebeu do director de uma revista (Chess Monthly), o local onde o jogo de xadrez se realizava na altura em que a fotografia foi tirada, era na Gambit Chess Rooms, em Londres…e, de acordo com outro relato, apoiado na correspondência de Aleister Crowley, o seu habitual parceiro de jogo era R. A. Starr.
R. A. Starr era alto membro da Ordo Templi Orientis (de Crowley), e estranhamente usava o pseudónimo de Aloysius Comet…
A referida figura, era também um exímio contador de histórias, e focava muito a neurose masoquista da flagelação…
Pior do que isso, foi mesmo R. A. Starr ter deixado escapulir nas suas conversas com Aleister Crowley, que era portador de uma doença venérea…
O que, por sua vez e pela parte de Crowley, valeu-lhe o cognome de uma personagem de um livro que Crowley tinha acabado de ler: Badcock.
Sentindo-se mal com a forma de trato que Crowley lhe dava, acabou por desaparecer do círculo em que Crowley se movia.
Ah…acontece que R. A. Starr, tinha a fisionomia idêntica à de Fernando Pessoa…pois é R. A. Starr, quem afinal está na foto, que é por todas as pessoas vista como um jogo de xadrez entre Aleister Crowley e Fernando Pessoa.
Afinal, o mistério da foto demonstra ser bem mais simples do que realmente complexo, como antes o parecia.
Um último e curioso pormenor: após a simulação da morte de Aleister Crowley, R. A. Starr (ou Badcock) voltou a aparecer, desconhecendo que Crowley afinal ainda estava – secretamente – vivo, e tentou tomar as rédeas do destino da O.T.O (Ordo Templi Orientis) e da A.:.A.:. (Astrum Argentum)…
Como essa parte da história acabou, infelizmente não lho consigo revelar, mas após O Mistério da Boca do Inferno, e a misteriosa foto de Aleister Crowley e Fernando Pessoa em Sintra, terem sido solucionados, muito ainda há que demonstra que apenas foi parcialmente solucionado.
Afinal de contas, o maior mistério encontra-se sempre na incógnita que as acções dos nossos semelhantes representam…
Ainda sobre Aleister Crowley há a dizer que quando foi cremado em Brighton a 1 de Dezembro de 1947, alguns discípulos seus entoaram o Hino a Pã. (nota: o vídeo que se segue é um recital do Hymn to Pan)
E...serviu a Somerset Maugham de inspiração, que em 1908 publicou "The Magician". "Quando o conheci, andava metido com o satanismo, a magia e o ocultismo. Isso era então uma espécie de moda em Paris, nascida, sem dúvida, do interesse que ainda despertava o livro de Huysmans, Là-Bas" - Somerset Maugham.
Somerset Maugham refere ainda ter escrito o "The Magician" em 1907 de não se lembrar como tinha surgido a ideia de fazer de Aleister Crowley, Oliver: "Embora, como disse, Aleister Crowley tenha servido de modelo para Oliver Haddo, este não é em absoluto um retrato dele. (...) Crowley, no entanto, reconheceu-se na criatura de minha invenção - pois não era outra coisa - e escreveu uma crítica da novela que ocupou uma página inteira da revista Vanity Fair (nota: o link reporta à actual revista, tendo a homónima aqui referida, existido até 1935), assinando-se Oliver Haddo".
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P.S.: Quanto à localização dos sítios mencionados neste blog, tive durante muito tempo a dúvida se a mesma haveria de ser aqui disposta ou não. Pela resolução positiva, peço que faça o melhor uso possível desta informação, o qual principalmente tem a ver com a preservação do património e a não poluição dos locais sob que forma for. Tendo boa fé em si, deixo-lhe aqui no mapa (seta verde - poderá ampliar para ver melhor), a Boca do Inferno em Cascais, Portugal:
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As outras partes d'O Mistério da Boca do Inferno:
I. Aleister Crowley e Fernando Pessoa ou "O Mistério da Boca do Inferno" - Parte I
II. "O Mistério da Boca do Inferno" ou Fernando Pessoa e Aleister Crowley - Parte II
III. Fernando Pessoa e Aleister Crowley ou "O Mistério da Boca do Inferno" - Parte III
I.II. Solução d'"O Mistério da Boca do Inferno" - Parte I