© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
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Embora seja fácil encontrar várias hipóteses para a etimologia de "Sintra", é difícil, senão quase impossível, traçar a sua origem até ao início do povoado.
As contribuições para essa dificuldade são imensas, desde o facto de vários povos terem passado pela Serra de Sintra, bem como o quão fácil é, ter a lucidez toldada pela emotiva fantasia que a Serra aviva na mente de quem a conhece.
Desde os primórdios da Humanidade, em especial desde o Neolítico há dez mil anos atrás (8000 a.C.), passando pela Idade do Bronze (3000 a.C.), Idade do Cobre (2500 a.C.), permeadas estas duas últimas pela era Megalítica e com seus traços na Serra de Sintra (Anta de Adrenunes, Tholos do Monge, por exemplo), Idade do Ferro (1200 a.C.), passando muito provavelmente e entre outros, pelos Celtas, Lusitanos, Romanos, Visigodos, Mouros, e por fim e até hoje, os Portugueses.
Pelo meio de todos esses povos, passaram várias denominações, decerto cada uma tentando adaptar a denominação do povo anterior, à cultura do que então dominava a Serra de Sintra.
"Ofiússa", um dos nomes que corre por algumas conversas, era não da região de Sintra, mas da parte costeira da Península Ibérica. De étimo grego e significando "terra de serpentes", encontra-se a sua utilização na Ora Maritima de Rufus Avienus Festus: "Ophiussam ad usque. rursum ab huius litore, internum ad aequor, qua mare insinuare se..." (nota: étimos gregos e étimos latinos, eram facilmente adaptados por uma língua na outra).
Sem fontes convincentes, diz-se que os Celtas davam o nome de "Cynthia" à Serra de Sintra, em devoção à lua. Ainda assim, pode-se confirmar apenas o intento da devoção à lua, visto que os romanos denominavam a Serra de Sintra de "Mons Lunae", "Monte da Lua".
De acordo com alguns autores, também vários escritores clássicos, gregos e latinos mencionavam a Serra de Sintra como "Mons Sacer", ou "Monte Sagrado", chegando a dizer (Sílvio Itálico) no texto "Púnicas", que o vento de Sintra era tão fértil que emprenhava as éguas, que desse modo davam à luz pequenos e velozes cavalos.
Dos Celtas e dos Lusitanos, "Cynthia" perdurou, mesmo passando pelo "Mons Lunae" do domínio romano que acabou por entrar em declínio, tendo passado - supostamente - "Cynthia" por esses, e chegado até aos Mouros, que segundo alguns, a chamaram de Zintira, Chinra, Xintra, até chegar a Xentra. Embora isso, e apenas segundo alguns autores, um geógrafo árabe de nome Edrisi, referia "Sintra" nos seus escritos como "Xentra", ou "Sentra" - porém, isso já foi no Séc. XII, o qual teve mais de metade desse com a ocupação de Sintra por parte dos Portugueses, o que equivale a dizer que estes poderiam ter ignorado perfeitamente a denominação que os Mouros usavam.
Existe ainda quem refira - tal como se encontra na Wikipédia - que a "mais antiga forma medieval conhecida "Suntria" apontará para o Indo-Europeu “astro luminoso” ou “sol”". A questão ganha estranhos contornos, visto que a origem dos étimos de "sol" nos ramos Indo-Europeus, quer bretões, eslavos, romances, afastam de "Suntria" qualquer aproximação a "sol", a não ser o Gótico "Sunno", já depois de várias alterações nos ramos ascendentes.
Ainda assim, existem provas de cultos mantidos ao longo dos séculos em honra ao sol, como é notório no Da Fábrica que falece ha Cidade de Lysboa de Francisco de Holanda, de 1571, que numa gravura sua mostra um templo de pedras erguidas formando um círculo, com a seguinte descrição:
SOLI.AETERNO / CHRISTO.IESV. / ET. / GLORIASE. VIR/GINI.
MARIAE. / VLISIPPO. / DEDICATIVT.
Note-se que o que na inscrição se enfatiza, é Jesus Cristo e a Virgem Maria (em glória eterna como o sol), e sendo homenageados por Lisboa (nota: a pedra contendo esta inscrição, encontra-se hoje em dia no Museu de Odrinhas). Para além disso, o misto de Paganismo com Cristianismo não é heterogéneo, por isso deverá mesmo ser visto como um monumento de homenagem.
Depois da duvidosa Xentra, existe ainda quem diga que "Sintra" advirá de "sin" que para os babilónios significaria montanha ou monte, e "tra" teria sido juntado ao "sin" pelos Lusitanos, representando três faces de Deusa: lua no céu, Diana na terra, e Hécate no inferno - não se percebendo contudo, como é que o "tra", conteria em si, essas três faces de Deusa.
Voltando a "Suntria" - e já muito perto do fim da etimologia de "Sintra" - a mesma poderá ter sido corrompida, visto que na História de Portugal volume 1, de Alexandre Herculano, se pode encontrar a seguinte nota, tirada da Crónica dos Godos:
"Mense Julio capta fuit Sintria a comite D. Henrico. Audientes enim sarracem mortem regis D.
Alfonsi coeperunt rebellare», «Chronica Gothorum», era 1147."
E eis aqui, que é utilizada "Sintria", em 1147, aquando da reconquista de Sintra aos Mouros.
Certo é que a referida crónica foi escrita em Latim, mas do "Sintria" a "Sintra", foi um pequeno passo, passando ainda pela corrupção de "Cintra", pelas mudanças de ortografia - e com as suas tentativas de adequação às épocas em que a mesma sofria alterações - ao longo dos séculos.
Xentra, Cynthia, Suntria, Sintria, Sintra...independentemente da nominação, sempre carregando o mesmo sentimento ao longo dos séculos, para os olhos e o coração de quem a vê, em casa se sentir.
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