© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Imagens: Arquivo do Caminheiro de Sintra
Depois da Lenda de Monserrate, em que um cavaleiro cristão foi morto pelo alcaide mouro de Sintra num duelo, o qual se tornou em objecto de veneração por parte das gentes daquela região, e quando D. Afonso Henriques por fim conquistou Sintra, foi erigido um pequeno santuário onde era sito o túmulo do bravo cavaleiro.
Em 1540, por ordem do padre Gaspar Preto, o santuário que se havia transformado em capela, e a capela que se havia degradado até ao estado de ruína, essa foi mandada reconstruir em honra de Nossa Senhora de Monserrate, uma provável homenagem à santa da Catalunha, onde o padre Gaspar Preto terá passado no regresso de uma viagem a Roma.
Em 1718, esta quinta que se havia sob domínio dos Castro, através do seu proprietário Caetano de Melo e Castro, passa de Quinta da Bela Vista, a Quinta de Monserrate, antes da sua morte.
Em 1790, a neta de Caetano de Melo Castro, Francisca Almeida Pimentel, à altura proprietária da Quinta de Monserrate, aluga-a ao inglês Gerard De Visme, um abastado importador de madeira do Brasil, que já tinha mandado construir em 1770 um majestoso palácio em Benfica, Lisboa.
Fonte do Palácio de Monserrate, ano de 1902 |
Tendo-se apaixonado por Sintra, decide construir na Quinta de Monserrate, um palácio em estilo romântico, que trouxesse aos olhos de quem para ele olhasse, a imagem de um castelo medieval - isto, ainda que a Quinta de Monserrate não fosse propriedade sua, e apenas lhe fosse alugada - e pede para isso autorização a Francisca Almeida Pimentel, para o fazer no cume do monte onde estava a casa dos Castro, bem como também para trabalhar a capela que havia sido reconstruida a mando do padre de Gaspar Preto, mas que depois do terramoto de 1755, se encontrava em ruínas.
Dessa altura, só existem as duas gravuras abaixo presentes (cada uma com correspondente ampliação), cuja descrição refere que a construção estava flanqueada por duas torres, com torre de menagem, e com merlões e ameias em toda a volta.
Noel, publicada em 1795
Noel, publicada em 1795 - ampliada
Baker, publicada em 1793
Porém, em 1794 De Visme vê-se obrigado a partir para Inglaterra, subalugando a Quinta de Monserrate a William Beckford.
William Beckford modifica então as torres do Palácio de Monserrate, bem como os seus jardins, onde acaba por mandar construir uma cascata de aspecto natural, a partir de um ribeiro que encontra a sua nascente mais a sul na Serra de Sintra, perto do Monte Rodel.
Depois de William Beckford deixa o Palácio de Monserrate bem como Portugal, os Castro desinteressam-se pelo Palácio de Monserrate bem como pela sua quinta, deixando-os ao abandono e num estado de quase degradação, como constata Lord Byron em 1809, no seu Childe Harold's Pilgrimage.
É contudo somente em 1841 que um milionário comerciante de têxteis de nome Francis Cook, após casar e passar por Lisboa, trava conhecimento com o Palácio de Monserrate, e que também se apaixona pela propriedade.
Depois de algumas temporadas passadas em Portugal, na Quinta de São Bento - agora Quinta do Pombal devido ao seu antigo proprietário ter sido Sebastião Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal - os Castro por fim acedem em vender-lhe a Quinta de Monserrate, o que vem a acontecer em 1846.
Palácio de Monserrate em 1881, em litografia de João Ribeiro Cristino |
O Palácio de Monserrate só iria conhecer avanços em meados de 1858, através do arquitecto James Knowles Jr., que retomando o estilo do palácio neogótico, tenta dar-lhe um ar indo-persa, conseguindo-o definitivamente no seu resultado final, fazendo até lembrar os contos do Califa Vathek, como assim era conhecido William Beckford devido aos seus contos - tendo este último inclusive criado junto à cascata, o Arco de Vathek, sendo que Vathek era o personagem principal de um de seus contos com o mesmo nome que o referido personagem que acabou por ficar imortalizado em seu arco, no Parque de Monserrate.
Por fim, Sir Francis Cook tendo em vista uma reconstituição romântica, utiliza a Capela de Nossa Senhora de Monserrate que tinha chegado ao estado de ruína, para através da vegetação e do estado daquela, recriar um cenário de fantasia, com as árvores da borracha e as trepadeiras, a enlearem-se pelas ruínas como se serpentes fossem, e onde Francis Cook mandou também colocar num recanto aberto na terra através de um amplo buraco na Capela de Nossa Senhora de Monserrate, um sarcófago etrusco, que formava um trio com outros dois que se encontravam pelo Parque de Monserrate.
Por todas as remodelações feitas dentro e fora do Parque de Monserrate (incluindo a reconstrução da Fonte de Mata-Alva), e por ser um estrangeiro bem querido pelo povo, Francis Cook é feito Visconde de Monserrate pelo Rei Dom Luís, em 1870.
Após falecer em 1901, Monserrate passa para o filho, para o neto, e por fim para o bisneto (também ele) Sir Francis, que acaba por vender o Parque de Monserrate e seu palácio, juntamente com o Convento dos Capuchos e seu parque, a um especulador por oitenta e cinco mil libras, em 1947.
Anos mais tarde, o Estado português acaba por os reaver, e torna o Palácio de Monserrate bem como o seu parque, um monumento de interesse público, em 1978.
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P.S.: Em breve serão publicados posts sobre o Cromeleque, a Capela de Monserrate, o Arco de Vathek, e a Cascata de Beckford.
P.S.2: Quanto à localização dos sítios mencionados neste blog, tive durante muito tempo a dúvida se a mesma haveria de ser aqui disposta ou não. Pela resolução positiva, peço que faça o melhor uso possível desta informação, o qual principalmente tem a ver com a preservação do património e a não poluição dos locais sob que forma for. Tendo boa fé em si, deixo-lhe aqui no mapa (seta verde - poderá ampliar o mapa para ver melhor), o Parque e Palácio de Monserrate em Sintra, Portugal:
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