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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Aprendiz Maçon, Loja Luz do Sol ou a Maçonaria em Sintra - Parte VII



© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra


 Terceiro de quatro artigos de José Alfredo da Costa Azevedo, sobre a loja maçónica Luz do Sol, publicados no Jornal de Sintra, no século XX, e posteriormente publicados nos volumes do autor "Velharias de Sintra":

"Jacinto (não me recordo do apelido). - Era comerciante com estabelecimento de fanqueiro, na Avenida Heliodoro Salgado, onde está hoje a loja de António Capote.

Era eu garoto, lembro-me muito bem, todo o prédio foi destruído por um incêndio que deflagrou no estabelecimento.

O Jacinto suicidou-se algum tempo depois.



Nada conheço da sua vida. Mas, se foi mação, há que concluir que era homem que reunia as qualidades necessárias para o ser.

Manuel Ramos Ferreira de Carvalho - era natural de Afife (Minho) e veio para Sintra, em data que não posso determinar, exercer a profissão de estucador. Mais tarde, tendo conseguido arranjar uma certa cultura, começou a trabalhar como construtor civil e, assim conseguiu arranjar algum dinheiro. Como tinha muita habilidade projectou e construiu, na Rua D. João de Castro, para sua habitação, o Casal de São Roque.

Frequentava, com assiduidade, o Centro Republicano de Sintra e, se a memória me não falha, estava filiado no Partido Democrático, na ala esquerdista, que era chefiada pelo falecido dr. José Domingues dos Santos.

Francisco dos Santos - foi fiscal de via e obras da Câmara Municipal de Sintra, numa época em que esta não tinha ao serviço arquitectos ou engenheiros. Todos os trabalhos que, hoje, a estes pertencem, eram feitos pelo «Mestre Santos», assim conhecido e, também, por «Mestre Santos das calçadas». Lidei muito com ele quando, no meu tempo de rapazote, trabalhava na Secretaria da Câmara como empregado auxiliar.

Quando tinha que fazer qualquer informação, chamava-me para a escrever. Tinha uma caligrafia horrível e, por isso, ditava e eu escrevia.

Era, como os outros que já referi, um democrata convicto. Fui ao seu funeral, e vi que foi para a cova decorado com as suas insígnias maçónicas.

José de Almeida Martins - foi comerciante em Sintra, com estabelecimento de fanqueiro, na Vila Velha, em frente da Torre da Vila, no prédio onde, ultimamente, funcionou a padaria de José Simões Tavares e que faz gaveto para as Escadinhas de Félix Nunes. Hoje está em obras, não sei com que finalidade.

Era, também, um democrata convicto e, tal como os outros que apontei, um «Homem Bom».

Joaquim Wenceslau Gomes - foi, durante muitos anos, caixeiro no estabelecimento de Jacinto Lopes Baeta, hoje transformado, pelos seus netos, em supermercado. Não se metia em política, mas era um democrata sincero. E, porque reunia em si as qualidades necessárias para tal, fez parte da Maçonaria.

Reconheço, hoje, que fiz mal em não apontar os nomes de todos os mações e, até. os nomes simbólicos que usavam, mas, agora, nao tem remédio.

Não consegui averiguar a data em que foi fundada a loja maçónica sintrense, nem sequer a data em que se verificou a sua extinção.

Contudo, existem elementos para fixar o seu início nos finais do século XIX e o seu fim, pouco tempo depois da implantação da República, em 1910, isto por dedução a que cheguei de conversa que tive com o saudoso amigo José Wenceslau, filho do mação Joaquim Wenceslau Gomes, que referi em último lugar.

O José Wenceslau tinha, por herança do pai, e por ele muito aumentada, uma boa colecção de documentos e notas referentes a Sintra, devidamente arrumada em pastas, tais como jornais, revistas onde, algumas vezes, colhi elementos para estas velharias.

Foi, também, o mesmo amigo que me confirmou uma coisa que eu já sabia há muito tempo: a primeira sede da Loja Luz do Sol, foi na Rua Francisco Rodrigues Ferreira, na Estefânia, no prédio conhecido por «Torresão», do lado esquerdo, descendo para a Portela.

Mais tarde, seguindo o mesmo informador, a loja foi transferida para o prédio com o n.° 40 da Rua Dr. Alfredo Costa.

Nestas segundas instalações, lembrava-se o meu falecido amigo de ter assistido, quando garoto, levado por seu pai, a uma festa, ligada a escolas, teria ele uns oito anos.

Recordava-se, também, de as salas estarem engalanadas e com muitas flores e que, no decorrer da festa, foi distribuída às crianças grande quantidade de livros escolares.

Assim, parece que a Maçonaria não é tão má como muitos a pintam."


© O Caminheiro de Sintra


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