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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Carta de Doação de D. Afonso Henriques a Gualdim Pais, Grão-Mestre dos Templários, de Casas e Herdades em Sintra (tradução)


© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Contribuição: A. V.; A. Simões
Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra


para a leitura deste artigo é conveniente a consulta da sua correspondente errata, separada numa primeira e numa segunda adendas.

  Após a Reconquista, D. Afonso Henriques para premiar a importância dos nobilíssimos serviços prestados por Gualdim Pais à coroa portuguesa, doa a esse algumas casas e herdades junto a Sintra.

  O facto de na referida carta de doação as casas e herdades não estarem discriminadas, faz supor que as mesmas já deveriam estar em posse de Gualdim pais, tendo sido a carta de doação, um documento que de forma oficial selava aquele como autêntico dono.

  Outro aspecto a ter em conta, e que por alguns autores é abordado pendendo para um lado ora para outro, tem a ver com a questão de que sendo Gualdim Pais à altura Grão-Mestre da Ordem dos Templários em Portugal, as ditas casas de Sintra teriam sido atribuidas à Ordem dos Templários e não apenas ao indivíduo, usando para isso na carta de doação, o termo de latim "Magistro Gualdino", equivalendo a "Mestre Gualdim". Porém, não existe nenhuma prova que provoque uma conclusão definitiva em relação a isso mesmo, embora que seja de supor que sendo um Freire Templário, as suas posses - bem como as da Ordem dos Templários - não fossem para usufruto pessoal ou da Ordem, mas para o Senhor [nota: como no lema dos Templários (a sublinhado), extraído do Salmo 113 da antiga Vulgata e da antiga tradução grega da Bíblia, e do Salmo 115 da tradução hebraica da Bíblia: "Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam, super misericordia tua et veritate tua" - "nada para nós Senhor, nada para nós, mas a Teu nome dai glória, pelo amor da tua misericórdia e da tua verdade"].

  Abaixo encontra-se primeiramente a carta de doação de D. Afonso Henriques para Gualdim Pais das casas junto a Sintra, no seu latim original (latim medieval), seguida da tradução de latim para português de minha autoria autoria, coadjuvado por A. V., e com revisão de A. Simões:

:::::: Latim

"In nomine patris et filij et spiritus sancti amen. Ego Alfonsus portugalensium rex comitis henrrici et regine Tharasie filius magni quoque refis alfonsi nepos et uxor mea regina mahalda facimus tibi magistro gualdino cartam donationis et firmitudinis de domibus et hereditatibus cultis et incultis quas tibi tradidimus apud sintriam pro beneplacito et fideli servitio quod nobis sempre fecisti. Damus tibi prefatas domos cum suis hereditatibus ut habeas et posideas eas omnibus diebus vite tue, post obitum vero tuum habeas potestatem vendendi donandi testandique et ectiam in vita tua similiter cui voleris et ad quem tibi placuerit. Si forte aliqua persona cuiuslibet ordinis aut dignitatis temerario ausu predictas domos cum suis hereditatibus tibi tolere presumpsserit pro sola presumptione reddat ipsas hereditates duplatas sicut ipso tempore restaurate fuerint et regi terre D solldus purissimi argenti. Ille vero qui ex semine nostro processerit et te contra illos qui tibi has hereditates propter cordis sui nequitiam abstrahere voluerint adiuverit et defenderit omnipotentis Dei misericordiam et nostram benedictionem ipse et semen eius in secular seculorum posideat. Facta carta donationis et firmitudinis Era I. C.ª LXXXXIX.ª. Ego prefactus Alfonsus Portugalensium rex et uxor mea regina mahalda hanc kartam quam sponte fieri iussimus proprijs manibus roboramus.
Gunsaluús de Sausa curie regis dapifer confirmo, Santius Nunis conf., Vedastus Sanchiz conf., Pelagius Zapata conf., Sueriz Menendiz conf. Egas Fafiaz conf., Petrus Pai conf., Alfonsus Venegas conf., Ermigius Venegas conf., Laurentius Venegas conf., Ermigius Menendiz conf., Petrus Randulfiz conf.
Suerius Menendiz conf., Rodericus Venegas conf., Menendus Gunsaluiz confirmo.
Petrus Pelaiz curie regis signifer conf., Rodrigus Pelaiz conf., Petrus Goinas conf., Martinus Nuniz conf., Martinus Zouparel conf., Alfonsus Rodriguiz conf., Fernandus Rodriguiz conf., Martinus Anaya conf., Fernandus Gunsaluiz conf., Petrus Pelaiz conf., Randulfus conf.
Petrus Silua Sancte Marie prior scripssit.
(Rodado) Portvgal Rex Afonsus - Regina Mahalda Cvm Filiis Svis - Fiat Pax."

Reprodução do selo utilizado na Carta
de Doação de D. Afonso Henriques a Gualdim Pais
a respeito de bens em Sintra

:::::: Português

"Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, Ámen. Eu Afonso, Rei dos Portugueses, filho do Conde Henrique e da Rainha Teresa, e também neto do Rei Afonso o Grande, com a minha mulher, e a Rainha Mafalda, fazemos-te a ti, Mestre Gualdim, esta carta de doação irrevogável de casas e herdades cultivadas e por cultivar, as quais te entregamos, ao pé de Sintra por nosso prazer e pelo fiel serviço que sempre nos prestastes. Damos-te as citadas casas com as suas herdades para que as tenhas, e possuas todos os dias da tua vida, e que após a tua morte tenhas o poder de vender, doar ou testamentar (e mesmo durante a tua vida) a quem quiseres e a quem te agradar. Se acaso alguma pessoa de qualquer ordem ou dignidade, por acto temerário, ousar tomar-te as referidas casas com as suas herdades, só pela ousadia tas devolva duplicando as suas herdades, tal como estavam na altura, e pague ao rei quinhentos soldos de puríssima prata. Quanto ao que vier da nossa progénie, não só te ajudará e defenderá contra aqueles que quiserem, por causa da maldade do seu coração, roubar-te estas herdades, mas também tenha, ele e a sua descendência, a misericórdia de Deus Omnipotente e a nossa bênção, pelos séculos dos séculos.

Feita a carta de doação e irrevogável Era I. C.ª LXXXXIX.ª [nota: Equivalendo a Era Hispânica a menos trinta e oito anos, temos então que 1199 é aos olhos de hoje, 1161 d.C, existindo autores no entanto que afirmam que a data verdadeira da carta de doação é de 1157 d.C.], eu, o supracitado Afonso, Rei dos Portugueses e minha mulher, a Rainha Mafalda, com as nossas próprias mãos confirmamos esta carta, que de de boa vontade mandámos que se fizesse."


© O Caminheiro de Sintra


para a leitura deste artigo é conveniente a consulta da sua correspondente errata, separada numa primeira e numa segunda adendas.