© Pesquisa e transcrição: O Caminheiro de Sintra
Vídeo: Adriana Sousa Duarte
Imagens: ver créditos fotográficos no final deste artigo
Continuação da transcrição do documentário de Adriana Sousa Duarte sobre o Palácio Nacional da Pena, com a participação do ex-director do Palácio da Pena, José Martins Carneiro.
Parte III
Continuando pelo nosso percurso, vamos conhecer o interior deste palácio. Ao subirmos as escadas de dois lances em forma de “u” deparamo-nos com o claustro do convento dos frades jerónimos, de estilo Manuelino. Trata-se de um espaço lindíssimo, onde a arcaria e os feixes do abóbadado reflectem a solenidade de uma atmosfera tranquila. Tem dois pisos, com arcada de arcos plenos no primeiro, e abatidos no segundo. À volta destes, dispõem-se algumas das principais salas. Este ambiente é praticamente todo original, tendo sido guardados mesmo os azulejos policromáticos. Esta estética azulejar variada foi colocada e ajustada aos diversos espaços rectangulares disponíveis.
Palácio da Pena, Serra de Sintra |
Essencialmente estão presentes azulejos hispano-árabes Maneiristas tipo xadrez, e tipo tapete, onde a policromia varia com a luminosidade, e até com o nevoeiro de cada dia. A ideia de colocar esta manta de retalhos de azulejaria foi do próprio rei, que foi buscar estes pequenos quadrados aos armazéns do estado, criados pelo Marquês de Pombal aquando do célebre terramoto de Lisboa.
Azulejos de Wenceslau Cifka |
Somos convidados agora a entrar na copa principal, que dá acesso à casa de jantar privada da família real. O tecto desta sala é ainda do tempo dos frades jerónimos do século XVI. Passamos a seguir aos aposentos do rei D. Carlos I, assim como o seu atelier de pintura. De seguida, detemo-nos numa antiga cela dos monges, com a sacristia e o coro numa planta em “L”. Destaque para o vitral da janela central da nave, uma obra produzida em Nuremberga na Alemanha, em 1848, tratando-se de uma homenagem a Portugal e à sua expansão no Mundo. Aqui vemos o rei D. Manuel I que segura num Conventinho da Pena, mais além vê-se Vasco da Gama que regressa da Índia com os navios ao fundo, enquanto que em cima estão Santa Maria e São Jorge, e mais em cima podemos divisar a heráldica da casa de Saxe Coburgo Gotha e da casa de Portugal.
Retábulo de Nicolau de Chanterene |
Na igreja destaca-se o retábulo de alabastro do mestre Nicolau de Chanterene, que trabalhou toda a vida em Portugal. Entre 1530 e 1532, esteve em Sintra a criar este retábulo. Esta obra transmite delicadeza, expressão, leveza, e transparência. Este painel na verdade, é uma novidade para a altura, na medida em que já não tem nada de manuelino e sim, é pura renascença.
Ponte Levadiça do Palácio da Pena |
Situados no piso superior da galeria das antigas celas do Convento que foram remodeladas, estão os quartos da família real. O primeiro quarto, o Quarto das Damas de Companhia tem um notável trabalho de estuques. No tecto encontramos uma representação de troncos de árvores com pinhas à mistura. As paredes imitam madeira, dando à dependência uma área de distinção e sobriedade. Este admirável trabalho de estuques está bem patente também no segundo quarto, o Quarto do Veador com temas florais. Passemos agora ao quarto da rainha Dona Amélia, que inclui um exímio trabalho de decoração atribuido ao pintor-desenhador António Januário Correia, criando-nos a sensação de estarmos no interior de uma sala árabe.
Gárgula do Palácio da Pena |
No seguimento do nosso périplo pelo interior do Palácio, passamos pelo Quarto de Vestir da Rainha, pela Sala de Estar da Família Real, e pelo Escritório da Rainha. D. Amélia foi a última Rainha de Portugal, esposa de D. Carlos I. Embora o Palácio não tenha sido construido em sua geração, ela foi a maior utilizadora e apreciadora deste castelo.
Janela Para o Pátio dos Arcos do Palácio da Pena |
José Martins Carneiro: "A última figura real que habitou, vivou, o Palácio da Pena. E se nos exteriores nós temos de prestar toda a nossa vassalagem e toda a nossa homenagem a D. Fernando II, os interiores, as ambiências decorativas do interior devemo-lo sim ao gosto da última rainha de Portugal, Dona Amélia de Orlean e Bragança. Nitidamente."
Pátio dos Arco, Palácio da Pena |
Narrador: Esta foi a razão porque tantos espaços foram atribuidos a ela.
Finalmente chegamos à Sala Árabe, uma das mais belas salas de todo o Palácio. Integralmente pintada Trompe-l'Oeil por Paolo Pizzi. Sendo uma sala de pequenas dimensões, as pinturas conferem-lhe profundidade e relevo, dando-lhe uma dimensão quase irreal. Faz parte das dependências privadas da Rainha, um terraço o qual pode ser acedido pela sala de estar privada, ou através de um átrio de passagem.
Parte da Ronda da Guarda, Palácio da Pena |
Daqui se avista a parte fernandina do Palácio, e todo o movimento de volumes que dão à arquitectura exterior do monumento, uma dignidade e uma racionalidade inimaginável. Atenda-se que toda a construção do Palácio está assente sobre grandes rochedos, e consequentes grandes desnivelamentos do terreno, o que transforma numa maior magnitude a grandeza do bastião arquitectónico do romantismo.
Lendas do Palácio da Pena |
É do terraço da rainha que nos apercebemos imediatamente da relação directa do interior com o exterior do Palácio, e deste, com o imenso manto verde que o envolve. Na Sala Indiana destacamos o gosto pelo rendilhado e pelo escultórico, de tal forma que não conseguimos encontrar o limite entre a escultura e as artes decorativas."
© O Caminheiro de Sintra
Créditos fotográficos:
1ª fotografia: autor Flickr J. A. Alcaide
2ª fotografia: autor Flickr Samuel Santos
3ª fotografia: autor Flickr Samuel Santos
4ª fotografia: autor Flickr Eric-P
5ª fotografia: autor Flickr Tony Moorey
6ª fotografia: autor Flickr Jürgen Stemper //
7ª fotografia: autor Flickr bartb_pt
8ª fotografia: autor Flickr Harshil.Shah
9ª fotografia: autor Flickr Pedro Moura Pinheiro
Outros Artigos Sobre o Documentário da Arquitectura do Palácio da Pena;
Palácio da Pena, a Arquitectura; José Martins Carneiro, os Depoimentos - Parte I
José Martins Carneiro e o Palácio da Pena - Parte II
O Palácio da Pena e Lisboa: "Presença de Lisboa na Arquitectura do Castelo da Pena"
P.S.: Quanto à localização dos sítios mencionados neste blog, tive durante muito tempo a dúvida se a mesma haveria de ser aqui disposta ou não. Pela resolução positiva, peço que faça o melhor uso possível desta informação, o qual principalmente tem a ver com a preservação do património e a não poluição dos locais sob que forma for. Tendo boa fé em si, deixo-lhe aqui no mapa (balão "A" - para ver melhor poderá ampliar), o Palácio da Pena em Sintra, Portugal: