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domingo, 26 de dezembro de 2010

Trabalho Maçónico - Símbolos da Maçonaria Operativa em Sintra - Parte I


© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Vídeo: O Caminheiro de Sintra
Imagem: autor Flickr NiaD (1ª imagem); Arquivo do Caminheiro de Sintra (restantes)



  Dos traços da Maçonaria em Sintra, já em 1903 o Conde de Sabugosa, António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, sobre eles escrevia em seu belo livro “O Paço Real de Sintra”, como se pode abaixo ler:

Siglas

Sigla significa em portuguez: lettra inicial que indica abreviatura no escripto.
E em architectura é o sinal gravado em cada pedra pela mão do canteiro, com um fim ou maçonico, que servia para os adeptos se corresponderem mysteriosamente, ou com um fim apenas industrial e economico para cada um marcar o seu trabalho, e ser pago por elle.
O emprego d’estes signaes convencionaes foi effectivamente, no começo, exclusivo dos livre maçons, corporações de constructores e operarios que na idade media trabalhavam na construcção das grandes cathedraes e dos edificios de caracter civil.
Para se entenderem entre si tinham signaes, que eram apenas conhecidos de um pequeno numero de iniciados, e serviam só aos grandes dignatarios.


  O Conde de Sabugosa pretendia mostrar assim, as várias interpretações que quem estava de fora poderia fazer, acerca dos ditos sinais gravados em pedra, que se podem encontrar em vários monumentos ao longo de todo o território português. Desde a comunicação à prova de trabalho concluido, o Conde de Sabugosa atribuia no entanto, o seu uso apenas à mão-de-obra dos pedreiros, o que não se pode dizer que seja algo explícito ou absolutamente concreto na análise que se possa fazer deste caso. Se atentarmos à ideia que a maior parte das pessoas tem acerca da Maçonaria no geral, perceberemos que alude sempre a um pedreiro (mão-de-obra) com profundo conhecimento do seu trabalho - para além dos outros conhecimentos implícitos na Maçonaria e que a ver têm com muito do que incorre dentro do Universo.

  Essa imagem implicaria no entanto, a inexistência de uma hierarquia não só na Maçonaria, mas na própria sociedade, e para tal, basta simplesmente tentar compreender o processo de construção de uma estrutura imóvel, desde a sua idealização e concepção, à sua execução e remates finais: todo um processo que passa - e sempre passou - por várias classes dentro de hierarquias, que atribuem responsabilidade a quem executa os trabalhos, assim como a quem os concebe. De outro modo os pedreiros teriam sido capazes de ter tido a capacidade para lidar por exemplo com o rei, estabelecerem projectos, trabalharem a pedra, assentarem-na, no espaço a que os dias se cingem, e igualmente no curto espaço a que a vida se cinge.

Maçonaria Operativa em Sintra - Palácio da Vila

  Existe assim uma idealização não plausível, daquilo que seriam os maçons da Maçonaria Operativa (a que era colocada em prática também através da profissão), de onde surgiu o denominação de “pedreiro-livre” não por ter toda a liberdade como a falaciosa idealização poderá induzir, mas por a mão-de-obra ser paga consoante o trabalho feito em uma empreitada.

  Relativamente a este último facto que tem que ver com o termo “pedreiro-livre” e que envolvia trabalhos a prazo, é perfeitamente plausível a ideia de sindicância que possa surgir. A sindicância poderia ajudar na protecção dos conhecimentos, da continuidade do ganha-pão, e de os melhores executantes se manterem sempre próximos dos trabalhos mais importantes - o que na altura, seriam concerteza por toda a Europa, as empresas mais importantes pois o tempo e os gastos levariam a que se construissem grandes obras de arte arquitectónicas, libertando gastos e encurtando o tempo que com erros, poderia ser extremamente longo.

  Podendo ter sido um dos primeiros grupos com as noções actuais de “sindicato”, e assim sendo um corpo estranho ao clero que tudo dominava - ainda para mais trabalhando nas obras de Deus, como catedrais ou igrejas, ou outras obras para o rei, que era encarado como de descendência divina - seria natural que tivessem que se proteger entre si como fraternidade, usando para isso o sigilo e o segredo.

Igreja de São Martinho em Sintra - Maçonaria Operativa

  Voltando à conjunção inicial, dos traços da Maçonaria em Sintra, encontramos outro autor que fala das “siglas”, símbolos ou assinaturas maçónicas, que é Félix Alves, em três artigos de 1935 publicados no Diário de Notícias, focando-se todos eles na igreja de São Martinho de Sintra e evocando o arquitecto e arqueólogo Possidónio da Silva (Mémoire de l’archéologie sur la véritable signification des signes qu’on voit gravés sur les anciens monuments du Portugál (Lisboa, 1872) par le Chevalier J.P.N. da Silva (Lisbonne)), J.A. Brutails, autor da obra L’Archéologie du Moyen Age (J.A. Brutails - L’Archéologie du Moyen Age, et ses Methodes, pág. 205, Paris, 1900), e Rackzynski - Les Arts en Portugal, pág. 333, Paris, 1846.

Assinatura de Canteiro - Igreja de São Martinho em Sintra

”Para activar as construções e para pagar a cada canteiro o trabalho executado, este marcava os seus silhares ou outras cantarias com o seu sinal próprio, a maior parte das vezes analfabético, marca mais ou menos rude, mais ou menos ingénua e infantil, umas vezes constituida por linhas rectas, mais raras vezes por curvas, de variedade infinita, mas quase sempre muito simples, principalmente se se tratava de pedras resistentes, como o granito.”

  Félix Alves faz a sua própria interpretação em muito influenciada por Possidónio da Silva, não sendo contudo completamente satisfatória a sua explicação. As assinaturas ou os símbolos maçónicos utilizados - como se poderá ver em outro post - não dão a certeza de que eram utilizados apenas por um pedreiro, ou - menos ainda - que representassem apenas um único pedreiro. A descrição que faz das ditas assinaturas ou símbolos maçónicos é também muito simplista, visto que utiliza termos como “rude”, “ingénuo”, “infantil”, “analfabético”, para descrever os mesmos, quando alguns deles conseguem ser encontrados em vários alfabetos e quando para se ser pedreiro, ou pelo menos para executar certos trabalhos em pedra, seria necessário conhecer pelo menos os caracteres e algarismos correntes que constassem dos planos de execução - e faria todo o sentido, usarem-se algarismos ao invés de “rudes” ou “infantis” rabiscos.

Assinatura de Canteiro - Palácio Nacional de Sintra ou Palácio da Vila

”Nos monumentos não aparecem marcados todos os silhares; atribui-se esta circunstância ao facto de uma pedra marcada por um artífice poder indicar uma fiada consecutiva, até à primeira pedra marcada por outro canteiro.”

 Também este argumento aos olhos do Caminheiro de Sintra parece falacioso, pois nesse caso, teriam de existir muitos mais símbolos visíveis do que o número que na realidade existe. Isso acarretaria ainda outro problema: faces interiores de construções ou fiadas, dificilmente poderiam ser observadas no momento, para além de que seria sempre necessário aguardar por conclusões ou avanços de outros pedreiros, antes que esses assinassem o seu trabalho e o mesmo fosse comprovado. Ter-se-ia encontrado também caso assim fosse, pedras com símbolos em faces interiores, que se tornariam visíveis aquando de reconstruções ou desmoronamentos, do que, não existe qualquer tipo de relato conhecido. (continua na parte II)


© O Caminheiro de Sintra


Outros Artigos da Maçonaria em Sintra:
Assinaturas de Canteiro, Aprendiz Maçon - Símbolos da Maçonaria Operativa em Sintra - Parte II
Mestre Maçon, Guilda Maçónica - Símbolos Maçónicos de Sintra - Parte III
Sinais da Maçonaria - O Marquês de Pombal em Sintra ou a Maçonaria em Sintra - Parte IV
José Alfredo da Costa Azevedo e a Loja Luz do Sol, ou a Maçonaria em Sintra - Parte V
Companheiro Maçon, Loja Luz do Sol ou a Maçonaria em Sintra - Parte VI
Aprendiz Maçon, Loja Luz do Sol ou a Maçonaria em Sintra - Parte VII
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