© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Imagens: Arquivo do Caminheiro de Sintra
"Fui motivado por esta visão que eu me recordei duns certos amores que o rei português sentiu aqui em Sintra, por uma fidalga portuguesa. Ora Dom Sebastião, que foi um grande dançarino, não poderia amar à vontade? – À primeira vista parece que sim, mas lendo a crónica, o infeliz rei foi contrariado nos seus propósitos.
A história deste amor tem a duração do sorriso das auroras, nasceu, viveu, e logo morreu…Morreu?!... não digo bem, pois os amores foram gravados na alma, e esta é imortal.
Vou-te contar que esta pequenina tragédia, entre dois jovens corações; aqui em Sintra, na Serra, puderam vibrar à vontade por uns momentos, longe da corte, que já nesses tempos como hoje, foi sempre um antro de intriga.
O Duque de Aveiro, Dom Jorge de Lencastre teve uma filha única, dizendo a crónica que era, “dama formosa”, bem feita e muito esperta. Chamava-se Juliana e tinha 16 primaveras.
Era tão querida na Corte, que foi criada no Paço e protegida pela rainha Dona Catarina.
Dom Sebastião enamorou-se de D. Juliana com tanto ardor, que em pouco tempo na Corte não se falava de outra coisa. Dona Catarina, o Cardeal D. Henrique e toda a fidalguia fizeram uma tenaz guerra àquela paixão, tendo havido o descaramento de dizerem ao duque, para casar a filha com um fidalgo qualquer, dando-lhe a Corte honras e mercês.
O Duque de Aveiro, que percebeu bem o fim de tais promessas, ia deixando passar o tempo, fazendo, o que ainda hoje muitos pais fazem, vista grossa.
Ora D. Sebastião ia continuando fazendo namoro à fidalguinha, mas, pelo que vejo na crónica, não tinha muitos momentos para estar à vontade com a sua apaixonada, e tendo em mira poder-lhe dizer certos segredos, e mesmo trocar talvez algum beijo, combinou uma grande caçada aqui em Sintra, para os lados dos Capuchos.
Sintra foi sempre propensa para namorados, ainda hoje, lerás nos jornais, em descrições de casamentos, que os noivos partiram para Sintra, onde vão passar a lua-de-mel. Dom Sebastião organizou a caçada, com um grande número de fidalgos, criadagem, belos ginetes, etc.
Bem compreenderás que Dom Sebastião lembrou-se da caçada, simplesmente para que a jovem Juliana lá aparecesse e lhe pudesse falar nalgum lugar solitário da serra. A Rainha Dona Catarina, que sempre adivinhava as intenções do Rei, pediu à mulher do Duque de Bragança, senhora muito inteligente, que vigiasse os apaixonados.
Quando pela serra os caçadores estavam no auge da animação, o Duque de Aveiro levou a filha para um lugar assombrado, retirado, e ali se encontraram com Dom Sebastião. Mas qual não foi a admiração do rei, quando viu aparecer, risonha e amável, a mulher do Duque de Bragança!
Estás a ver o quadro? Imagino que foi recebida com o riso nos lábios, mas diz a crónica que foi logo terminada a caçada com espanto de todos os fidalgos convidados. Aqui está a pequena história destes amores que duraram, como te disse, um sorriso de aurora."
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