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Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra
Segundo artigo de quatro, da autoria de José Alfredo da Costa Azevedo, publicado no Jornal de Sintra no século XX, e posteriormente publicados nos volumes do autor, "Velharias de Sintra":
"Aqui têm, meus caros leitores, mais alguns de que me lembro, da irmandade da Loja Luz do Sol. Conheci-os a todos quando era rapaz, e a alguns quando já era um homem consciente:
Dr. Vergílio Horta - Tinha dois cursos superiores: Farmácia e Direito. Só me lembro de ele ter exercido a advogacia; o seu escritório era no largo que hoje tem o seu nome, no rés-do-chão do prédio que fazia gaveto com a Volta do Duche e que foi demolido, em 1960, para alargamento desta artéria.
Foi presidente, julgo que mais de uma vez, da Câmara de Sintra e, também administrador do concelho. Foi um grande advogado, dotado de uma honestidade inexcedível, e, por isso, muito considerado por toda a população da nossa vila.
Dr. Joaquim Nunes Claro - Exerceu, em Sintra, durante muitos anos a sua profissão de médico e, também a de subdelegado de Saúde, e, qualquer desses cargos, com muita honestidade e competência e, tal como o dr. Almeida, foi um «Pai dos Pobres» e morreu pobre.
Poeta distinto, deixou só um livro, Cinza das Horas, esgotado há muitos anos, e ainda ninguém pensou na sua reimpressão.
No Parque Municipal está perpetuada a sua memória num busto, em bronze, do escultor Anjos Teixeira (filho), que tem, como plinto, uma grande rocha. Foi uma iniciativa do Jornal de Sintra; no acto da sua inauguração recitaram poesias os artistas Cármen Dolores e Manuel Lereno, este já falecido, mas nenhumas da autoria do homenageado, facto que foi muito notado.
No mesmo parque, perto das Murtas, sobre um pequeno tanque, foi colocada uma lápide na qual está lavrado um soneto de sua autoria. Vou transcrevê-lo, não porque esteja relacionado com o tema deste trabalho, mas tão-somente porque é muito bonito e pode amenizar a leitura. Ei-lo:
”Quem quer que sejas tu que neste abrigo,
Viester em hora mansa hoje parar
Feliz, vens encontrar aqui contigo
Os tesoiros que andaste a procurar.
Vens encontrar neste silêncio amigo,
A paz do ouvido e a glória do olhar,
E até, quem sabe? Aquele beijo antigo
Que há muito tempo não sabias dar.
Vens encontrar (É tarde? Não importa),
Um bem que não passou da tua porta
Um grande amor, nem tu soubeste a quem.
E vens (tanta riqueza em toda a parte)
Vens a ti mesmo, atónito, encontrar-te:
És um poeta e nunca o viste bem”.
Nunes Claro foi também um democrata convicto.
José do Nascimento - Funcionário Público. Foi, durante muitos anos, conservador do Palácio da Pena e um republicano muito dedicado ao regime implantado em 5 de Outubro de 1910. O filho, o meu velho amigo José do Nascimento, conserva, bem emolduradas, as insígnias maçónicas do pai, que devem corresponder, julgo eu, a um grau elevado.
Jerónimo Inácio Cintra - Comerciante com estabelecimento de mercearias, no Largo Dr. Gregório de Almeida, onde está hoje instalada uma casa de artesanato. Foi ele, como vereador, que promoveu, há muitos anos, a construção do chafariz, conhecido por “Chafariz da Câmara”, em estilo mourisco, no princípio da Volta do Duche, em frente do Quartel dos Bombeiros (1ª Secção) desmontado em 1960, para alargamento da artéria e reconstruído, recentemente, mais abaixo, antes do portão do Parque da Liberdade. Era, também, um ferveroso democrata e sofreu, após a morte de Sidónio Pais, as perseguições que, então, foram desencadeadas e durante as quais se praticaram inúmeros actos de selvajaria.
José Bento Costa - Exerceu, várias vezes, o cargo de presidente da Câmara e tem o seu nome numa rua do Bairro da Portela. Foi comerciante em Lisboa; católico praticante sincero e sócio do Centro Republicano de Sintra, onde era muito considerado. Era pai do escritor sintrense Francisco Costa, falecido em Março de 1988.
Num dia em que fui visitar, como de costume, o Francisco da Costa, em conversa, não sei a que propósito, e mostrando-se muito compungido, disse-me: “Há coisas que não se percebem! Sabe que meu pai era mação? Não arranjo explicação para o facto. Meu pai, tão honesto, pertence a uma coisa dessas!”
Perguntei-lhe: “Meu caro Chico Costa, diga-me: A maçonaria é alguma associação de malfeitores?”
Resposta: “Nem pensar nisso; se o fosse, o meu pai nunca teria sido mação”.
E a conversa ficou por aqui."
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