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6. Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, Séc. XVIII 7. Contos de Sintra 8. Maçonaria em Sintra 9. Palácio da Pena 10. Subterrâneos de Sintra 11. Sintra, Imagem em Movimento


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Convenção de Sintra, Dalrymple e Junot - Contributo Para a Sua Clarificação


© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Contribuição: Edgar Cavaco
Imagens: créditos designados nas legendas


  Com as invasões francesas no início do século XIX, e com todos os acontecimentos que lhe foram inerentes em território português (declaração de guerra à Grã-Bretanha, fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil, religação Portugal/Grã-Bretanha, etc.), é assinado um armistício entre França e a Grã-Bretanha em 1808, para a partida dos franceses de solo português.

  A convenção onde foi ratificado o armistício ficou conhecida como "Convenção de Sintra", um nome que apenas devido à localidade de onde a carta informando o Governo Britânico do acordo consumado entre franceses e britânicos, havia sido remetida, e devido à já fama que Sintra possuía no seio britânico, levou a que se assumisse que o armistício tinha sido assinado em Sintra. Não impediu contudo tal facto, que tivessem surgido as hipóteses e certezas de que a "Convenção de Sintra" tinha sido assinada no Palácio de Seteais, ou no Palácio de Queluz.

  Num post do Secreto Palácio de Sintra onde aparece uma nota alusiva à "Convenção de Sintra", E. Cavaco do blog "As Invasões Francesas" teve a amabilidade de deixar o seu rico contributo na reposição da verdade da história, clarificando de forma rigorosa alguns dos contornos que envolveram a ratificação do armistício.

Blog "As Invasões Francesas" de E. Cavaco

Assim, ficam aqui os seus dois comentários como foram colocados, havendo no entanto notícia por parte do seu autor de que ao longo deste ano de 2011 irão ser publicados documentos relativos às Invasões Francesas em Portugal por ordem cronológica, sendo que  perto do Outono estarão disponibilizados os textos do armistício, da "Convenção de Sintra" (o texto provisório que foi rectificado, e o definitivo), e outros referentes ao mesmo assunto: diversas cartas do juiz de Lisboa e de alguns oficiais do exército português aos generais ingleses (destes últimos ao governo britânico), algumas notícias de jornais britânicos, entre outros. Em Dezembro de 2011 será ainda publicado o resultado do inquérito que foi feito em Inglaterra a este mesmo respeito.


1ª MISSIVA
[nota: dos links presentes no texto, os indicados pelo seu autor encontram-se precedidos por um asterisco]



"Meu caro:

Wikipédias e lendas aparte, permita-me dizer acerca da chamada "Convenção de Sintra" o seguinte:
A 22 de Agosto de 1808, depois de travadas as batalhas da Roliça e do Vimeiro, foi assinado um "Armistício [provisório] para suspensão de hostilidades entre os exércitos britânico e francês". A 30 de Agosto, já depois de discutidos e ajustados os acordos finais, foi assinada a "convenção definitiva para a evacuação de Portugal pelo exército francês", ratificada pelo General Junot, da parte da França, e pelo General Dalrymple, da parte da Grã-Bretanha (Dalrymple era Governador de Gibraltar e tinha sido encarregado pelo governo britânico de se dirigir a Portugal para chefiar as tropas inglesas em Portugal. Acabou por desembarcar em Portugal já a seguir à batalha do Vimeiro, tendo sucedido a Wellesley como General em Chefe das tropas britânicas).
Embora poucas vezes seja dito, estes acordos tornaram-se públicos na Inglaterra a 16 de Setembro, já com os franceses a saírem de Portugal, e antes mesmo de se tornarem públicos em Portugal (à excepção de meia dúzia de Generais portugueses, a quem os ingleses lhes comunicaram o conteúdo de ambos os tratados). A má impressão que causaram estas notícias na Inglaterra denota-se nas chuvas de críticas que a imprensa britânica fez a este respeito, sobretudo por poucos dias antes se ter sabido das vitórias de Wellesley na Roliça e Vimeiro. Na sequência, o Governo britânico mandou instaurar um processo de inquérito sobre o referido armistício e convenção, que terminou no final de Dezembro do mesmo ano. Resumindo, todos os intervenientes nestes acordos foram absolvidos pela grande maioria do conselho militar que chefiou o processo (eram todos generais). Este processo foi então publicado, no início de 1809, com o título *Proceedings on the enquiry into the Armistice and Convention of Cintra, and into the conduct of the officiers concerned. Segundo as investigações que tenho feito (compilando dezenas de documentos coetâneos sobre este assunto), é neste documento que aparece pela primeira vez a expressão "Convenção de Sintra", aplicada à convenção acima aludida de 30 de Agosto.
Dalrymple, não obstante ter sido absolvido, viu a sua conduta e reputação repreendida publicamente pelo rei George III, acabando por nunca mais ter recebido um alto cargo.
Anos mais tarde, numas memórias sobre a sua conduta, adiantou, ainda que não tenha indicado o sítio certo onde se assinou o tratado, que a expressão Convenção de Sintra era “um nome impróprio e infeliz aplicado a este tratado; pois produziu a opinião que foi realmente negociado e concluído naquela vila, num determinado salão do Palácio Marialva, ao passo que Sintra estava na retaguarda da «posição formidável», cuja posse tinha sido obtida pela convenção” (*Memoir written by General Sir Hew Dalrymple of his proceedings as connected with the affairs of Spain and the commencement of the Peninsular War, p. 75). De facto, segundo o armistício de 22 de Agosto, o rio Sizandro era a linha de fronteira entre ambos os exércitos inglês e francês, e a Convenção de Sintra só permitia a aproximação dos ingleses à capital aquando do embarque da primeira divisão do exército francês.
Ainda não consegui descobrir precisamente onde foi assinada e ratificada a convenção, mas uma coisa é certa: em Sintra (ou Cintra) não foi de certeza.

Cumprimentos de um leitor atento,
Edgar"

Reconstituição da Batalha da Roliça em 2008, do blog http://batalharolica.blogs.sapo.pt

2ª MISSIVA
[nota: dos links presentes no texto, os indicados pelo seu autor encontram-se precedidos por um asterisco]

"Caro Caminheiro,

Anteriormente indiquei que o texto do armistício e da convenção foram publicados na Inglaterra a 16 de Setembro. Porém, esqueci-me de referir que a publicação dos mesmos documentos era antecedida por uma carta que o próprio Dalrymple escreveu, a 3 de Setembro, ao Governo britânico, remetida do "Quartel-General de Sintra" (*Veja aqui e nas páginas seguintes). O facto dos três documentos terem sido publicados na mesma ocasião, aliado a alguma fama que o nome "Cintra" já tinha no público inglês, e também a uma provável ignorância da geografia portuguesa, foram os factores que penso terem provavelmente contribuído para a convenção ter assim ficado conhecida. (Repito que a expressão surge primeiro na Inglaterra).

Um parêntesis: Suponho que a convenção tenha sido assinada em Torres Vedras, pelo facto do armistício prever que essa localidade não seria ocupada por nenhum dos exércitos (inglês ou francês). Em relação à sua ratificação, Junot teria-a feito em Lisboa, e Dalrymple possivelmente na Lourinhã. (Mas como digo, isto é uma mera suposição).

Cumprimentos,
Edgar"


© O Caminheiro de Sintra