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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

José Alfredo da Costa Azevedo e a Loja Luz do Sol, ou a Maçonaria em Sintra - Parte V



© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra


  Ao longo de quase sessenta anos a publicar artigos no Jornal de Sintra, José Alfredo da Costa Azevedo deixou-nos em quatro desses, um vislumbre daquilo que era falado acerca da loja maçónica em Sintra, intitulada "Luz do Sol".

  Há que ter em conta que os artigos demonstram apenas a perspectiva de quem se encontrava de fora e de quem nada tinha a ver com a maçonaria, bem como fica patente o tipo de zum-zum que na altura se ouvia entre bocas e ouvidos. Parece no entanto, que mais tarde José Alfredo da Costa Azevedo chegou mesmo a fazer parte da "Loja Luz do Sol".

  Para além disso, os quatro artigos ajudam grandemente também, no aprofundar de conhecimento sobre personagens sintrenses das quais muitos já terão ouvido falar, as quais estariam eventualmente também elas ligadas à maçonaria.

"Não tenho documentos onde apoiar-me para fazer este trabalho, a não ser os que vi, há mais de 55 anos, na posse de um amigo que faleceu em 1933 e no que me disse outro amigo, recentemente falecido, cujo pai era mação. Assim, socorrendo-me da memória, vou fazer o que me for possível.

Tive conhecimento, há muitos anos e por mero acaso, que tinha existido em Sintra uma loja maçónica, com o nome de Luz do Sol.



Em 1929 ou 1930, travei conhecimento com o general (já na reserva) João Evangelista Pinto de Magalhães. E, já agora, posso dizer que tinha sido professor na Escola do Exército, ministro da Guerra, vogal do Supremo Tribunal Militar e possuía várias condecorações. Democrata integérrimo, foi amigo íntimo de Elias Garcia e Magalhães Lima. Foi, por ele, que fiquei a saber que, em Sintra, tinha existido uma loja maçónica.

Quase todas as semanas trocávamos dois dedos de conversa, porque acompanhava, muitas vezes, o professor engenheiro de minas António Lobo de Aboim Inglês, o qual, semanalmente, ia ao Tribunal da Boa Hora, onde eu era escrivão ajudante, no 4º Ofício da 1ª Vara Cível de Lisboa, no qual corria o inventário por óbito da esposa, D. Maria Luísa de Morais Lopes Aboim Inglês, se bem me recordo do nome completo.
O general Pinto de Magalhães faleceu em 21 de Dezembro de 1939 e o Professor Aboim Inglês em 18 de Outubro de 1941, se não estou em erro.

Um dia, o general Pinto de Magalhães perguntou-me: “O senhor conheceu em Sintra o médico dr. Gregório de Almeida?”.

Respondi afirmativamente, acrescentado que era o médico de minha casa; que acompanhei o seu enterro e que o dr. Almeida tinha o cognome de «Pai dos Pobres», que lhe foi dado pelo povo. Faleceu em 1922, já eu teria os meus 15 anos.

Disse-me o general: «Pois fomos muito amigos! Talvez o senhor não sabia que o dr. Gregório de Almeida (G. Rafael da Silva de A.) foi venerável da Loja Maçónica que existiu em Sintra - a Loja Maçónica Luz do Sol».
Foi assim que fiquei sabendo que, na minha terra, tinha existido uma coisa em que nunca tinha ouvido falar. Apenas me lembro de minha avó dizer, e não sei se outras pessoas, e nem sequer sei se ela se queria referir aos mações de Sintra, que os «maçónicos» reuniam às sextas-feiras, para cuspirem num crucifixo.
Santa velhinha, que já lá está há muitos anos.
E, também, santa ignorância!...
Os mações não tinham mais nada que fazer do que cuspir numa imagem do pobre Cristo!...

Passado tempo, talvez uns meses, em conversa com o dr. Vergílio de Oliveira Horta, no seu escritório, e que faleceu, vítima de acidente de viação, em Julho de 1933; tinha 22 anos, se não me engano, e terminara pouco tempo antes o seu curso de Direito. Era um jovem muito inteligente e muito havia a esperar do seu talento. Mas, tristemente, a morte levou-o.

A certa altura da nossa conversa, abordou-se a política e, nesta, a Maçonaria. E o saudoso Vergílio disse: «o meu pai (já tinha falecido) era mação e pertenceu a uma loja sediada cá em Sintra».
A seguir, abriu uma gaveta da secretária e tirou dela as insígnias maçónicas do seu progenitor, envolvidas por alguma papelada, entre a qual se encontrava um livro brochado que, na capa, tinha um rótulo que dizia: «Inscrição dos Irmãos que compõem a Loja Maçónica Luz do Sol ao Vale de Sintra». Se não era isto, também não ando muito longe da verdade.

Li todos os nomes que constavam do livro, mas, decorrido mais de meio século, já me esqueci da maior parte deles.

Contudo, lembro-me, e posso afirmar, com certeza absoluta, que eram «irmãos» dessa loja os indivíduos que vou mencionar, o que faço, logicamente, porque já foram todos prestar contas ao «Supremo Arquitecto do Universo».

Aqui têm os nomes desses Irmãos:

- Dr. Gregório Rafael da Silva de Almeida, venerável da loja. Médico distinto; trabalhou muitos anos em Sintra uma vida, pode dizer-se, e morreu pobre. De noite, a qualquer hora com chuva e trovoada, num desconfortável trem, sempre com boa vontade, lá ia aos lugares mais distantes dó concelho, para acudir aos doentes, na maioria pobres, a distribuir «os benefícios do seu saber, que era muito, o conforto da sua palavra amiga e, quantas vezes, a esmola da sua bolsa exausta», como disse António Augusto Rodrigues da Cunha, num escrito de sua autoria, quando se iniciaram as deligências para a recolha de fundos para o monumento que, na Volta do Duche, perpetua a memória do dr. Gregório de Almeida - O pai dos pobres."


© O Caminheiro de Sintra


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