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6. Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, Séc. XVIII 7. Contos de Sintra 8. Maçonaria em Sintra 9. Palácio da Pena 10. Subterrâneos de Sintra 11. Sintra, Imagem em Movimento


terça-feira, 11 de abril de 2017

O Bastardo de 11 de Abril de há 660 anos


Túmulo de D. João I no Mosteiro da Batalha
(fotografia de Miguel Boim)
        Às três da tarde de 11 de Abril, há 660 anos, nascia em Lisboa aquele que foi um dos maiores bastardos do Reino, e talvez o maior de Sintra. Filho ilegítimo de um Rei, foi dado ao cuidado de um cidadão de Lisboa, passando assim os seus primeiros dias na Praça dos Canos.

        O tempo faz-nos por vezes saltar as margens do rio da vida que por baixo corre violento, e aos sete anos de idade o bastardo foi armado cavaleiro e Mestre da Ordem de Aviz.

Real Branco do reinado de D. João I,
cunhado na cidade do Porto
(colecção pessoal do autor)

        E a vida tem também sofrimento, lutas, vitórias e aprendizagens com os enganos. A deste bastardo teve traições com hasteares dos estandartes do Reino de Castela no Castelo dos Mouros; teve campos de batalha com milhares de homens sob um tórrido calor, que dando os homens que nele acreditavam seus corpos às lanças e flechas, deram também a independência a um medievo Reino de Portugal; teve um homem de confiança, amizade, íntimo maior, que a Sintra enviou quando o Castelo tinha sido traído, e que ambos até numa noite em que o bastardo decidira conquistar em definitivo o Castelo na Serra altaneiro, começou uma tempestade tão intensa cujas águas das cheias davam pelos peitos dos cavalos e cujos relampejares dos raios no céu iluminavam, faziam coriscar, as pontas das lanças dos homens que o bastardo seguiam. O dilúvio foi tal que até se perderam imensos livros do Mosteiro de São Domingos, ao Rossio, mas a um Rossio em que os caminhos eram lama e aqui e ali brotavam verdes e viçosos arbustos.

Reprodução da efígie presente no túmulo
de D. João I no Mosteiro da Batalha
(fotografia de Miguel Boim)
        Mas este bastardo, não sendo de Sintra, viveu ainda mais do que todas essas desventuras medievais. Iniciou, já enquanto Rei, o costume real dos reis se anicharem nesta Serra de Sintra, e provavelmente ajudando o Palácio da Vila a assemelhar-se ao que hoje parte da sua estrutura é.

         As vozes de um passado perdido da história dizem que contribuiu também para que surgisse o Mosteiro de Penha Longa na parte Sul da Serra, e fez com que do Convento da Santíssima Trindade no colo do vale que do Monte da Pena vem, saíssem vários confessores para a família real, de entre eles, um sobrinho de Inês de Castro.

        E mais que tudo. Soube escolher - se assim se pode dizer - a mulher que o acompanharia até ao fim, e além desse indo ao ficarem em seus túmulos juntos. Dessa união entre Portugal e Inglaterra, entre D. João I e Filipa de Lancaster, nasceu a geração de nobres portugueses que, num difícil e conturbado período da história da Europa, contribuíram e serviram de exemplo para a formação e o bom senso, para a coragem e a polidez, para a educação e o amor. Apesar de brutal, é esse décimo quarto, dos séculos mais ricos que a nossa história tem devido também a essa geração, chamada por Camões como ínclita, e advinda de um bastardo.

Túmulos de D. João I e de D. Filipa de Lancaster
no Mosteiro da Batalha
(fotografia de Miguel Boim)

        Se Lisboa tem a sua estátua do bastardo, a sua estátua de D. João I, Sintra tem o seu espírito. E que esse espírito insufle o peito de muitos através da inspiração da vida do Rei de boa memória, quer nos seus 660 anos que hoje se celebram, quer na sua eternidade.