O último artigo que escrevi para o Jornal de Sintra é para mim um dos mais especiais. Quando o escrevi quis celebrá-lo como trigésimo ao dedicá-lo ao poeta e sonhador Jorge Telles de Menezes. O Jorge já se encontrava adoentado há vários meses e quis com esta dedicatória fazê-lo sorrir, tal como a mim me continua a fazer quando da sua essência me lembro. Acabou por deixar-nos na semana em que este artigo ia ser publicado.
Uma minha memória do poeta sonhador, Jorge Telles de Menezes, no ano de 2015 na Igreja de Santa Maria. |
Quando o escrevi lembrei-me ainda de outros poetas e sonhadores que Sintra aqui acolheu. Mas sempre com a essência e aquela memória do Jorge presente.
« ...em inícios de Setembro, antes de chegarem à dita casa começaram na noite a ouvir, saindo da espessa mata, os sons de vozes e instrumentos de sopro. Eram os preparos que se davam para ali receberem a Rainha D. Maria I, naquela noite em que não corria aragem, naquela noite em que nem as chamas das velas junto das fontes sequer se agitavam.
Passados dias, nesse mesmo Setembro de 1787, Beckford visitara a Penha Verde conhecendo a história do Grande Dom João de Castro. E novamente foi até à quinta onde hoje vive D. Duarte Pio de Bragança. Nessa noite em que a Rainha D. Maria I foi ali recebida, no seu chegar, sentou-se “defronte da janela de grades, detrás da qual eu estava”. Beckford, pelo seu estatuto, já deveria ter sido apresentado (...) »
Este é um excerto da minha memória desse dia do passado em que os sonhos saíam em palavras de três bocas, mas em que o bater de cada um desses corações era, na realidade, a verdadeira e mais sincera comunicação.
As silhuetas do Jorge Telles de Menezes, do Nuno Vicente, e a minha. Créditos Fotográficos: Lígia Cabral. |
O maior consolo que tenho é a certeza de que o poeta viveu como um sonhador toda a sua vida. Viveu como um sonhador, tendo alcançado o amor no fim do fio que aqui fisicamente nos une. Viveu como a vida devia ser vivida. Tão importante como a sua obra, é aquilo que o Jorge continua a ser. E foi tudo aquilo que ele foi, que ele é, aquilo que gerou a sua obra. E o que continuará a ser é o homem que para nós sempre foi. E esse homem vive nos nossos corações.
Longa existência aos Sonhadores! 💚
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