colecções disponíveis:
1. Lendas de Sintra 2. Sintra Magia e Misticismo 3. História de Sintra 4. O Mistério da Boca do Inferno 5. Escritores e Sintra
6. Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, Séc. XVIII 7. Contos de Sintra 8. Maçonaria em Sintra 9. Palácio da Pena 10. Subterrâneos de Sintra 11. Sintra, Imagem em Movimento


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quinta-feira, 13 de março de 2025

Sobre a Apresentação do Livro "Fantasmas da História de Sintra", na Casa do Fauno (07 de Março de 2025)

 

alguns dos momentos que fizeram a noite da apresentação do livro
Fantasmas da História de Sintra


Há dez anos atrás comecei a trabalhar no esboço daquilo que se viria a tornar no livro "Fantasmas da História de Sintra". Levei cinco anos a escrevê-lo. Queria que as pessoas que o lessem pudessem sentir de forma mais intensa o que de bizarro encontramos na História: as coisas em que há séculos acreditaram, o que juraram ter vivido, o que sentiram, os mistérios de que em tempos longínquos ouviram falar. Contudo, não o podia escrever de forma objectiva, directa, pois não queria que quem lesse o livro interpretasse as minhas palavras como estando a tomar uma parte, ou que as minhas palavras fossem interpretadas como reflexos de crenças actuais. E para isso, não chegariam as mais de quinhentas notas de pé de página com referências bibliográficas.

Depois de o ter concluído, entre pandemia e outras situações, passaram cinco anos, perfazendo assim dez anos. Claro, valeu a pena. Vale sempre a pena quando desejamos que os outros possam sentir coisas boas com as nossas palavras, com os nossos gestos, com as nossas decisões. E foi o que também me fizeram na passada Sexta-feira, dia 07 de Março de 2025. Um dia no meio de tantos outros com avisos meteorológicos, repleto de chuva e de frio. Vieram amigos, conhecidos, desconhecidos, pessoas que me são queridas. Alguns de muito perto, outros de muito longe. Encheram a sala da Casa do Fauno onde também há mais de dez anos apresentei o livro "Sintra Lendária" (que chegou agora à 7.ª edição). Falámos do mistério que a vida é (sabemos que somos humanos, que vivemos no planeta Terra, mas no contexto do Universo e da vida não fazemos ideia do que isso significa), de coincidências, da História, e do prazer que espero que possam tirar deste meu novo livro, nos fantasmas que são as sombras que podem ser encontradas na História da Serra de Sintra.

Muito obrigado ao Alexandre Gabriel, editor da Zéfiro, que também apresentou o livro e que felizmente é também tão obcecado por perfeição nos acabamentos dos trabalhos literários; aos meus amigos mais próximos que estiveram presentes e tornaram a noite ainda mais bonita; à minha adorada Adriana que todos os dias enche a minha vida de cor, assim fazendo com que eu deseje ainda mais que todos possam sentir ainda mais cor em suas vidas; a todos que perante condições tão adversas vieram aquecer os corações com a História desta Serra que também para vós é tão marcante; e a todos aqueles que seguem o meu trabalho - quer há dias, quer há anos -, muito, muito obrigado. A felicidade e prazer de todas estas pessoas com a Serra de Sintra será uma das minhas maiores recompensas.

Site: https://www.miguelboim.com
Facebook:  https://pt-pt.facebook.com/Caminheiro.de.Sintra
Instagram: https://www.instagram.com/caminheiro.de.sintra/  
Biografia: https://www.miguelboim.com/biografia-de-miguel-boim

domingo, 26 de dezembro de 2010

Lendas de Sintra


  Abril de 2010, foi quando o Secreto Palácio de Sintra do nada se ergueu.

  Desde esse momento e nos seis meses que se lhe seguiram, foram publicados mais de 40 artigos sobre Lendas de Sintra, Mistérios e História, mais de 40 vídeos com a assinatura das Lendas do Secreto Palácio de Sintra foram colocados online, e ao longo desses primeiros seis meses este espaço recebeu mais de 40 mil visitas - as quais agradeço, tal como de igual modo também a si que agora lê estas palavras lhe fico grato.

 Do que aqui foi feito, os leitores puderam observar só o resultado final das investigações, o culminar objectivo de um percurso muitas vezes abstracto e errante, muitas memórias ficando no entanto por contar.

  Por este espaço ter uma linha editorial muito precisa, eu, o Caminheiro de Sintra, tentei sempre - com o fim de os leitores terem o melhor produto final possível - ser o mais objectivo, o mais impessoal, e o mais imparcial possível, sempre sentindo, que os leitores muito mais gostariam de saber.

  Até mesmo o espaço Contos de Sintra com conteúdo exclusivo da minha autoria, foi criado à parte das Lendas do Secreto Palácio de Sintra, de modo a terem ambos os seus objectivos e a sua individualidade própria.

  Por isso mesmo decidi criar um outro espaço que ao Secreto Palácio de Sintra será paralelo - continuando este com a sua linha editorial concisa, para que os leitores o possam aproveitar da melhor maneira - e que será onde muito do que fica por dizer, será por fim escrito, para que quem de fora está se possa inteirar de forma mais profunda, dos meandros que giram à volta de, e dentro de Sintra.

  O nome escolhido foi Lendas de Sintra, pois que como por quase todos é assumido, as lendas contêm sempre um fundo de verdade. Creio porém que para além das alusões e informações que vejo como necessário de serem divulgadas para que os leitores possam ter cada vez mais cor no quadro de Sintra que dentro de sua mente cada um para si pinta, decerto que as anotações e memórias que contarei, na sua realidade tornarão banal a mais prodigiosa fantasia.

  Ou talvez não. É tudo uma questão de se ser ou não surpreendido, e para isso o peso que a vida vivida tem, é juíz que sentença dita. Espero no entanto, nas lendas ou na realidade, ou na realidade que lenda aparente ser, contribuir para um maior espicaçar de curiosidade acerca de Sintra, tal como contribuir para o tempo dispendido pelos leitores que as minhas palavras continuarem a ler.


© O Caminheiro de Sintra


Lendas de Sintra em: http://lendas-de-sintra.blogspot.com

Memória de Uma Noite nos Capuchos - Contos de Sintra da Autoria do Caminheiro de Sintra

Contos de Sintra Pelo Caminheiro de Sintra - Memória de Uma Noite nos Capuchos



 

EXCERTO DO LIVRO "CONTOS DE SINTRA":
MEMÓRIA DE UMA NOITE NOS CAPUCHOS - CONTO PRIMEIRO

(consta do livro a ser publicado até ao fim do Verão de 2011)




    "De mim, da minha pessoa, que poderei eu contar-lhe a si, meu caro leitor? Que a Sintra, à comunidade capuchinha ali tinha ido parar, num dos laivos que meu inesperado desígnio até ali sempre tinha sido, e que para além dali sempre foi.
    Que desígnio? Se lho dissesse, decerto não o compreenderia, mas contar-lhe posso que apaixonado pelo mistério da vida, havia já eu percorrido múltiplos caminhos longe de entre si paralelos esses serem. Se lho escrevesse, se lho contasse, as distâncias a que já por essa altura havia estado, as culturas em que já me havia movido, decerto que o negaria em sua crença, tendo em conta o meu parco terço de longa vida à altura aventuradamente vivida.
    Noviço me havia tornado comendo aquele fruto, que em indeterminado tempo da árvore cai, e que em estranho momento - que momento certo é para qualquer vida - fruto se apanha, se come com deliciada delicadeza, e que em si contém a ideia da abnegação, do desconforto, e de tudo aquilo que disso se possa extrair através dos mais inocentes e românticos sentimentos. Enfim, esperava que fosse isso fruto outro que dentro de mim germinaria com a delícia que aquela semente que ali desembocando tinha eu plantado, e que corpo nodoso e ramificante me parecia certo que tomasse. A realidade mostrava-se porém tão diferente e estéril no cerne de sua semente, como aquilo que alguém pensa conhecer da imagem que transmitida recebe, do que ali no Convento dos Capuchos se vivia."



© Direitos de Autor Registados no IGAC

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Convento dos Capuchos em Sintra, e os seus Capuchinhos - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte VIII


© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Vídeo: O Caminheiro de Sintra
Imagem: autor Flickr Meanest Indian




"Percorrendo os arredores de Sintra com um criado que ia a cavalo, como eu, perdi-me num bosque e, sem ter por onde me orientar, fui seguindo ao acaso. Demos então com uma rocha no cimo da qual havia uma cruz. Havia ali uma gruta de cerca de cinco pés. Apeei-me e a curiosidade levou-me a entrar nela, onde se me deparou um altar, adornado muito simplesmente. À esquerda vi uma portinha, com uma cruz pendente como as portas dos conventos dos capuchos. Puxei a cruz e ouvi o som de uma campainha que me pareceu estar muito afastada. Pouco depois apareceu um irmão com o hábito de S. Francisco a perguntar o que desejava. Pedi-lhe permissão para visitar a santa morada. Quis saber se eu estava só; respondi que o meu criado me esperava fora com os nossos cavalos. Então fechou a porta e saiu a certificar-se do que eu informara. À volta, mandou-me segui-lo, vendo-me obrigado a andar vergado por baixo dos interstícios das rochas, onde pequenas celas, escavadas nas rochas, são as habitações desses frades. As celas têm, quando muito, dez pés de largura por seus de comprimento e recebem luz pelos buracos abertos na rocha. À esquerda vê-se um banco de pedra e à direita um nicho onde cabe um catre. As celas são em número de doze, todas forradas de cortiça, em muito boas condições contra a humidade.

Depois de ter examinado algumas dessas celas segui até ao fim do corredor onde encontrei um pequeno refeitório, também aberto na rocha; a seguir uma capela e no exterior uma pequena alameda de cinco pés de comprimento. Ofereceram-me água, que aceitei, e um bocado de pão. Esses frades disseram-me que jejuavam permanentemente, o que não acreditei por ter encontrado ossos na alameda e ao redor da ermida. Saí ao fim da alameda e os meus olhos foram surpreendidos pelo mais belo panorama deste mundo. Dali se avista toda a planície como do alto do castelo de Sintra. Esse ermo está ornado com várias estradinhas e terraços em socalcos, o terreno cultivado cuidadosamente com formosos pomares e jardins, regados de água abundante. Muito embora em toda a minha vida tenha visto coisas belas, nada ainda me pareceu mais belo que esse sítio encantado onde se não pode chegar senão através da gruta de que falei. Desejaria passar o resto dos meus dias nesse lugar, tão aprazível o encontrei. Tendo ensinado as virtudes de algumas plantas a esses religiosos, supuseram que eu era o estrangeiro que havia estado em Sintra, a mandado do rei.

Desenganei-os e então contaram-me mil coisas extravagantes desse cavalheiro, manifestando até onde vai a repulsa dos portugueses pelos estrangeiros. Pedi aos frades que me fossem visitar a Sintra. Quatro deles o fizeram, tendo-os eu obsequiado o melhor que pude e ofereci-lhes um barril de bom vinho e um fardo de bacalhau seco que havia comprado. Desde então o famoso retiro passou a ser como casa que fosse minha.


Depois disto fiquei a considerar estes eremitas como boas pessoas; não obstante, a maior parte destes frades pareceu-me estar muito longe da sociabilidade, da moderação e do desinteresse do pastor selvagem.
O secretário de Estado, que era grande caçador, disse-me em Lisboa que esses eremitas eram seus amigos, o que me dispôs a fazer-lhes mais presentes.

Aconselho aos que lerem estas Memórias depois da minha morte, a não deixarem de visitar este convento, se forem a Portugal. Talvez venham a concluir como eu que os antigos anacoretas, de que tanto se tem falado, podiam afinal estar na Tebaida muito bem instalados, pois ali sempre existem retiros saudáveis e amenos, com água necessária às necessidades da vida. Sem dúvida a comodidade de uma boa nascente motivou que algum eremita português tivesse embelezado aquele ermo."


© O Caminheiro de Sintra


As outras partes de Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, relato do século XVIII:

I. Castelo de Sintra, Subterrâneos de Sintra, Descrição Física, e a Chegada - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte I
II. Subterrâneos de Sintra e os Seus Tesouros - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte II
III. Cisterna do Castelo dos Mouros e Sua Descoberta, ou a Segunda Parte dos Tesouros de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte III
IV. O Magnetismo de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte IV
V. As Visões de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte V
VI. A Senhora Pedagache - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VI
VII. O Curandeiro de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VII


Créditos da fotografia: Autor Flickr Meanest Indian

O Curandeiro de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte VII



© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Imagem: autor Flickr Débora Figueiredo


A Serra de Sintra no cair do dia
"Antes de abalar de Sintra não quero deixar esquecido um caso tão curioso como é o da senhora Pedagache. Nas rochas e descampados que se estendem pelos altos da serra de Sintra até ao pormontório da Lua, a que hoje chamam da Roca, encontra-se uma superfície de três léguas habitada pelos lobos e por alguns guardadores de cabras a que os portugueses chamam cabreiros. Um destes pastores selvagens, que gozava fama de ser hábil em compor membros partidos, foi chamado para examinar os membros estropiados de um sujeito meu conhecido que usufruía uma pensão do rei e havia dado um grande trambolhão. O pastor surpreendeu a todos os assistentes pela sua maneira de tratar e singularidade no pensar. Tinha o aspecto de um urso. Sem prestar atenção ao que lhe diziam do estado do enfermo, fê-lo pôr completamente nu e estendido em cima de uma mesa. Depois disse: “Não podem falar nem estorvar-me no meu trabalho e se alguém disser qualquer coisa, vou para donde vim e abandono o doente.” Todos tomaram o partido de obedecer.

Então o pastor, agarrando o doente com a mão esquerda e passando-lhe a mão direita por todo o corpo, em determinada altura tocou nos ossos deslocados no tronco e nos joelhos. O enfermo com as dores soltou gritos lancinantes, mas os seus sofrimentos não duraram mais que alguns minutos. Contou depois que o pastor o havia dominado com tal força que mesmo que quisesse não se poderia ter mexido. Esse cirurgião selvagem mandou depois o doente beber uma infusão de ervas aromáticas, ficar de cama bem abafado e não se mover nem sequer para a satisfação de qualquer necessidade. Finalmente prometeu-lhe que dentro de dois dias poderia andar e anunciou que voltaria a visitá-lo.

A Senhora Pedagache - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte VI



© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra


Uma aldeã da região de Sintra
"Vem aqui a ponto falar da Pedagache, mulher não só extraordinária mas também muito sedutora. Por forma alguma tinha aspecto de uma bruxa, embora pelos seus encantos fosse muito capaz de embruxar um homem. Confesso que não me atrevo a explicar o dom que ela possuía de ver o corpo humano, bem como o dos animais, por dentro e outrossim o interior da terra a uma grande profundidade, e creio bem que seriam vãos os esforços de todos os filósofos juntos para explicar este fenómeno. Eis alguns casos verídicos, aliás geralmente conhecidos em Lisboa. Quando essa dama não contava mais de cinco anos, estando à mesa em casa de seu pai, viu um menino no ventre de uma criada que servia a refeição. Esta, ofendida com tal visão, sustentou que não estava prenha, mas o que é certo é que pouco depois houve o parto, confirmando-se assim a visão da menina. Tendo visto uma cadela emprenhada revelou que ela tinha na barriga sete cachorrinhos, indicando-lhes a cor e garantindo que nenhum se parecia com a mãe. Pariu a cadela e, com efeito, foram sete os cachorros e tais como a menina os descrevera.

Algum tempo depois, passeando a menina por certo caminho parou e disse que estava vendo um homem a trabalhar debaixo da terra a mais de sessenta palmos de profundidade, e veio a averiguar-se a verdade da visão pois ali existia uma mina cujo respiradouro media a profundidade indicada pela jovem.

Julgou-se a princípio que andava ali obra do demo, mas depois de um exame rigoroso abandonou-se tal suspeita, contentando-se todos em admirar silenciosamente um dom tão extraordinário acerca do qual as luzes da inteligência humana não alcançavam explicação que satisfizesse.

As Visões de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte V



© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Imagem: autor Flickr Muchaxo


Os caminhos que já na época transportavam
os habitantes até às visões
"Se tiverem presente o que disse anteriormente sobre o raio de luz que sai da fonte de Sintra, elevando-se verticalmente para o Sol e que de longe se vê, não ficarão surpreendidos por um frade português ter descoberto reservatórios de água a cinquenta e cem palmos de profundidade, olhando friamente o zénite, porque então se vê o vapor de água que se eleva verticalmente para o Sol do sítio onde a água se oculta. Bom era que com a mesma facilidade se pudesse explicar a causa que faz com que a gentil esposa do senhor Pedagache, comerciante francês, pode ver nitidamente o que se passa no interior do corpo humano e nas entranhas da terra.

O Magnetismo de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte IV



© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Imagem: autor Flickr Nimages DR


"Para voltar à mina de íman, direi que depois de haverem cavado
cerca de seis pés conseguiram encontrar o filão."
"Havia nessa montanha uma mina de íman e dela existia alguma notícia. Sabiam que fora vedada em tempos do rei D. Pedro, mas não tinham ideia do sítio onde estava. O estrangeiro recebeu ordem de procurar essa mina e teve a sorte de a descobrir por ter notado que as ervas cresciam em determinado sítio eram de cor pálida e diferentes das que se viam nos arredores. Os habitantes tinham conhecimento de algumas pedras partidas ou de simples lascas que se encontravam dispersas, mas nunca ninguém atinara com a matriz. Foi para que o estrangeiro falhasse que o marquês de Abrantes o fez incumbir de tal missão, porque via com desagrado a protecção que lhe dispensava o secretário de Estado e a amizade que lhe tinha o conde de Assumar, homem sabedor e com curiosidades, a quem ele invejava o génio e a habilidade.

Cisterna do Castelo dos Mouros e Sua Descoberta, ou a Segunda Parte dos Tesouros de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte III


© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Vídeo: O Caminheiro de Sintra
Imagens: autor Flickr Muchaxo (1ª); Arquivo do Caminheiro de Sintra (restantes)


solo sob o qual se encontra a Cisterna do Castelo dos Mouros, com os seus respiradouros

"Um sábio não pode ter interesses nem tentar instruir-se, a não ser para uso próprio, temendo sempre incorrer na censura do Santo Ofício, a qual, diga-se em abono da verdade, hoje já não é tão rigorosa como foi antes.
A mais bela antiguidade, merecedora de grande admiração, que existe neste recinto é um monumento soberbo, cujas ruínas em qualquer outro país teriam sido já reparadas cuidadosamente. Trata-se de uma nascente ou cisterna, abobadada, contendo mais de dez pés da melhor água do mundo, a qual se mantém sempre ao mesmo nível. Quando ali estive havia duas fendas na abóbada, cujas pedras tinham caído na cisterna que terá uns cinquenta pés de largura. Esse depósito parece ser o que abastece todas as fontes do palácio real de Sintra. Os portugueses, porém, são tão pouco curiosos que ignoram donde vem esse abundante manancial.

Subterrâneos de Sintra e os Seus Tesouros - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte II



© Pesquisa: O Caminheiro de Sintra
Vídeo: O Caminheiro de Sintra




"A história de Portugal é tão pobre de curiosidades e antiqualhas que não se encontra notícia sobre a origem dessa cidade ou simples fortaleza, que pode ter sido construída pelos romanos ou pelos godos antes do aparecimento dos árabes. O que é certo é que estes últimos a ocuparam. Pode verificar-se pela natureza dos materiais das ruínas mais bem conservadas, que são de uma alvenaria muito diferente da das mais antigas, embora afeiçoadas como as mais modernas.

A ridícula superstição dos portugueses de haver tesouros ocultos e espíritos de guarda a eles tem impedido que se façam escavações nestes lugares. Quando se lhes fala em tal fingem não ter medo nenhum, mas assim que se convida algum habitante de Sintra a entrar só nalgum subterrâneo, nem o mais ousado se atreve, mesmo que em paga lhe oferecessem o reino de Portugal. Suponho, porém, que o conde de Assumar, vice-rei das Minas, e o marquês de Alegrete iriam lá se pudessem fazê-lo sem escândalo. Porque neste país tudo é mistério, feitiçaria, sortilégio ou magia.
"


© O Caminheiro de Sintra


As outras partes de Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, relato do século XVIII:

I. Castelo de Sintra, Subterrâneos de Sintra, Descrição Física, e a Chegada - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte I
III. Cisterna do Castelo dos Mouros e Sua Descoberta, ou a Segunda Parte dos Tesouros de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte III
IV. O Magnetismo de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte IV
V. As Visões de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte V
VI. A Senhora Pedagache - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VI
VII. O Curandeiro de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VII
VIII. O Convento dos Capuchos, e os seus Capuchinhos - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VIII

Castelo de Sintra, Subterrâneos de Sintra, Descrição Física, e a Chegada - As Memórias de Charles Fréderic de Merveilleux - Parte I


© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Vídeo: O Caminheiro de Sintra
Imagem: autor Flickr gmancgn_2010




  Um importante relato do ambiente da Serra de Sintra entre 1723 e 1726, pode ser encontrado nas “Memórias Instrutivas de Portugal”, onde Charles Fréderic de Merveilleux para além de outras zonas do país - e em especial Lisboa - escreve sobre detalhes extremamente interessantes de Sintra à época.

  Desde o Castelo de Sintra às superstições dos portugueses, passando pelos Subterrâneos de Sintra ou pelo Convento dos Capuchos, e pela senhora Pedagache, que dizia-se que era capaz de ver através de volumes físicos.

"Deu-me também [D. Diogo de Mendonça] um salvo-conduto para visitar a Serra de Sintra e o seu castelo, onde seria arriscado ir sem tal garantia, como, aliás, a todo o restante reino. E isto porque os portugueses estão convencidos que o seu país está cheio de tesouros ocultos e que os estrangeiros têm artes de lhos descobrir.

Enquanto estive na Serra de Sintra, cheguei à conclusão que esta serra era constituida de uma maneira muito particular e a tal ponto que julgo não haver outra assim em todo o mundo. A serra termina num promontório que, à distância de duas léguas, serve de guia aos navegantes.

"Há ali túmulos, a calcular pelas covas que se observam..."
Compõe-se a serra de grandes pedras, algumas com dez pés de diâmetro, amontoadas umas sobre as outras, assim como as crianças amontoam nozes, sem nada a ampará-las, principalmente nos cimos onde estão as ruínas do antigo Castelo dos Mouros e onde existiu uma cidade bastante considerável a julgar pelo recinto cingido pelas muralhas torreadas e pelos subterrâneos que frequentemente se descobrem quando se procede a escavações.

Alguns têm muitas toezas de profundidade, medidas por mim com a exactidão que me foi possível, utilizando um prumo. Contudo, entre essas pedras o que existe não são cavernas mas sim nichos. As pedras aguentam-se umas às outras e servem de assento às antigas torres e muralhas dessa surpreendente fortaleza de que não restam mais que vestígios.

Há ali túmulos, a calcular pelas covas que se observam, as quais parece terem sido abertas com mais preceito que as concavidades de que anteriormente falei. Todo o recinto está coberto de silvas, de espinheiros e giestas que impedem a passagem. Frequentemente, porém, consultava as Memórias [nota CdS: as do próprio] e por elas me guiava."


© O Caminheiro de Sintra


As outras partes de Sintra nas Memórias de Charles Merveilleux, relato do século XVIII:

II. Subterrâneos de Sintra e os Seus Tesouros - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte II
III. Cisterna do Castelo dos Mouros e Sua Descoberta, ou a Segunda Parte dos Tesouros de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte III
IV. O Magnetismo de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte IV
V. As Visões de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte V
VI. A Senhora Pedagache - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VI
VII. O Curandeiro de Sintra - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VII
VIII. O Convento dos Capuchos, e os seus Capuchinhos - As Memórias de Charles Fréderic Merveilleux - Parte VIII


P.S.: Quanto à localização dos sítios mencionados neste blog, tive durante muito tempo a dúvida se a mesma haveria de ser aqui disposta ou não. Pela resolução positiva, peço que faça o melhor uso possível desta informação, o qual principalmente tem a ver com a preservação do património e a não poluição dos locais sob que forma for. Tendo boa fé em si, deixo-lhe aqui no mapa (seta verde - poderá ampliar o mapa para ver melhor), o Castelo de Sintra ou Castelo dos Mouros, Portugal:


Ver mapa maior


Créditos da fotografia do Castelo de Sintra ou Castelo dos Mouros: Autor Flickr gmancgn_2010

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Carta de Doação de D. Afonso Henriques a Gualdim Pais, Grão-Mestre dos Templários, de Casas e Herdades em Sintra (tradução)


© Pesquisa e texto: O Caminheiro de Sintra
Contribuição: A. V.; A. Simões
Imagem: Arquivo do Caminheiro de Sintra


para a leitura deste artigo é conveniente a consulta da sua correspondente errata, separada numa primeira e numa segunda adendas.

  Após a Reconquista, D. Afonso Henriques para premiar a importância dos nobilíssimos serviços prestados por Gualdim Pais à coroa portuguesa, doa a esse algumas casas e herdades junto a Sintra.

  O facto de na referida carta de doação as casas e herdades não estarem discriminadas, faz supor que as mesmas já deveriam estar em posse de Gualdim pais, tendo sido a carta de doação, um documento que de forma oficial selava aquele como autêntico dono.

  Outro aspecto a ter em conta, e que por alguns autores é abordado pendendo para um lado ora para outro, tem a ver com a questão de que sendo Gualdim Pais à altura Grão-Mestre da Ordem dos Templários em Portugal, as ditas casas de Sintra teriam sido atribuidas à Ordem dos Templários e não apenas ao indivíduo, usando para isso na carta de doação, o termo de latim "Magistro Gualdino", equivalendo a "Mestre Gualdim". Porém, não existe nenhuma prova que provoque uma conclusão definitiva em relação a isso mesmo, embora que seja de supor que sendo um Freire Templário, as suas posses - bem como as da Ordem dos Templários - não fossem para usufruto pessoal ou da Ordem, mas para o Senhor [nota: como no lema dos Templários (a sublinhado), extraído do Salmo 113 da antiga Vulgata e da antiga tradução grega da Bíblia, e do Salmo 115 da tradução hebraica da Bíblia: "Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam, super misericordia tua et veritate tua" - "nada para nós Senhor, nada para nós, mas a Teu nome dai glória, pelo amor da tua misericórdia e da tua verdade"].

  Abaixo encontra-se primeiramente a carta de doação de D. Afonso Henriques para Gualdim Pais das casas junto a Sintra, no seu latim original (latim medieval), seguida da tradução de latim para português de minha autoria autoria, coadjuvado por A. V., e com revisão de A. Simões: